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Conheça um pouco da história de um dos mais significativos patrimônios históricos de Timóteo

Construída na primeira metade do século XX, a edificação que serviu como sede da antiga Fazenda D. Angelina, posteriormente como o Hotel Acesita e por último ao Restaurante Monte Alto, foi ao chão. Durante o dia, as redes sociais foram inundadas de lamentos e revolta dos que ali passavam e presenciavam parte da história da cidade sendo levada a escombros.

Obviamente que o sentimento de indignação coletivo se dissipou antes mesmo que a poeira da demolição baixasse por completo.

Até que um novo prédio se levanta no lugar, um vazio cultural entre um dos mais importantes períodos históricos do município – sua transição de simples povoado a distrito de São Domingos do Prata, aos dias atuais,  permanecerá atras de um tapume.

Primeira missa celebrada por Padre Deolindo Coelho no então Hotel Acesita, em 1945. O prédio à esquerda, funcionava a Farmácia de Raimundo Alves de Carvalho – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

 

Uma multidão formada por funcionários da usina e seus familiares aglomeraram-se na área da antiga fazenda para assistir a missa – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

 

Ao fundo, ainda podia se ver parte da grande mata que cobria toda a região – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

História

Construída em 1938 por Manoel Mariano de Abreu, conhecido por Manoel Bentinho, no mesmo ano que Timóteo é elevado a distrito, pelo Decreto Estadual n.º 148, de 17-12-1938, a Fazenda D. Angelina, de Raimundo Alves de Carvalho, marcou o período em que a economia de Timóteo desenvolvia-se pela agropecuária, atividade primitiva, iniciada no século XIX, por Francisco de Paula e Silva Santa Maria. Este, instalou na região, sob carta de Sesmaria de 9 de abril de 1832, que dava-lhe as terras de um lugar denominado Ribeirão de Timóteo, que deságua no Rio Piracicaba.

Até início dos anos 2000, a sede da Fazenda Alegre ainda estava de pé – Foto: Mário de Carvalho Neto

Antes mesmo que o pioneiro se instalasse na localidade que recebeu o nome de Fazenda Alegre, a região pertencia à 4ª Divisão do Rio Doce, que possuía seu quartel no lugar chamado Onça Pequena (nome do ribeirão que banhava a localidade), hoje Jaguaraçu, então pertencente a São Domingos do Prata.

Neste período, as terras férteis do Vale do Rio Doce tornam-se intensamente cobiçadas, já que os povos originais, os “inoportunos” nativos, haviam sido dizimados.

Na virada do século XIX e XX, as terras da Fazenda Alegre, pertencente aos herdeiros de Francisco de Paula ou Chico Santa Maria, foram subdividindo-se entre novos pioneiros que chegavam de Ferros, Mesquita, Marliéria, Grama (Jaguaraçu) e Alfié, como Manoel Mariano de Abreu, Sebastião Malaquias, Joaquim Bento, Maria Isabel de Abreu, Quintino Alves de Carvalho e tantos outros. Com a morte de um dos pioneiros, sua terra foi doada à São Sebastião, onde erigiu uma modesta capela coberta com folhas de côco. Nos arredores da capela, novos casebres foram sendo construído, originando então o primeiro nome do povoado, São Sebastião do Alegre, então pertencente a Babilônia (Marliéria).

A Fazenda do Juca Estevão, Fazenda Córrego Alto, Fazenda do Alegre, Fazenda do Birica, Fazenda do Raimundo Tarso, Fazenda do Quintino Alves, Mata do Limoeiro e Fazenda Colônia, asseguravam o trabalho nos plantios de algodão, café e criação de suínos. De acordo com depoimentos, a conexão entre os moradores era por trilhas, ora no capinzal ou por matas fechadas. À noite, os moradores faziam tochas com vara de taquara, como lanternas, para percorrer as longas distâncias a pé. Entretanto, todos evitavam o Capão do Vinhático à noite, devido a fama de ser um lugar assombrado.

Emancipação

Na década de 1930, o pequeno povoado de São Sebastião do Alegre, é elevado a distrito com o nome de Timóteo – Foto: Acervo Casa de Memória de Timóteo    

Entre os anos de 1939 a 1943, o distrito de Timóteo passa a pertencer ao município de Antônio Dias, vindo a ser transferido para Coronel Fabriciano pela Lei Estadual n.º 336, de 27-12-1948.

Elevado à categoria de município com a denominação de Timóteo pela Lei Estadual n.º 2.764, de 30-12-1962, o território é desmembrado de Coronel Fabriciano.

A Fazenda D. Angelina, denominada anteriormente de Fazenda Colônia, de Raimundo Alves de Carvalho, filho de Quintino Alves de Carvalho e D. Angelina Augusta, foi construída por Manoel Mariano de Abreu, conhecido por Manoel Bentinho. Pessoa admirada pela capacidade de desenvolver diversas profissões, como construtor, carpinteiro, engenharia de obras hidráulicas, além de fabricação de ferragens e consertos de máquina, Manoel Bentinho construiu também em 1922, o imóvel onde está instalada a Casa de Memória. No centro da sede do município, o imóvel preservado originalmente abriga um relevante museu sob a chancela da Câmara de Vereadores. Na Fazenda D. Angelina, Manoel Bentinho assentou moinho, engenho de serra e engenho de cana.

A Fazenda Angelina abrigava diversas atividades produtivas, como moinho de milho, engenho de serra, engenho de cana, criação de suinos e bovinos – Foto: Acervo Particular (Zaíra de Carvalho)

De acordo com a escritora Zaíra de Carvalho, filha de Quintino Alves de Carvalho, seu avô foi o primeiro a introduzir a raça do gado Zebu em Minas Gerais, importado da Índia, da província de Maori, por intermédio de D. Pedro II, em 1884. Ao se estabelecer em Timóteo, Quintino criava gado, cultivava café e outros cereais. Raimundo Alves, que se formou em Farmácia na escola de Ouro Preto, era reconhecido como médico, devido sua atuação na cura de diversas enfermidades, inclusive da gripe espanhola, que assolou o mundo na primeira metade do século XX.

Quintino e Joaquim Ferreira de Souza, foram empresários bem sucedidos em Timóteo. Juntos, construíram a balsa no Porto do Calado, onde gado, produção agrícola e cafeeira e produtos industrializados eram transportados para a estação ferroviária do Calado. Até 1952, inauguração da ponte conhecida popularmente como Ponte Velha, caminhões e automóveis também utilizavam a balsa.

Quintino e Joaquim Ferreira de Souza prestavam serviços com sua balsa na travessia do Rio Piracicaba, ligando Timóteo ao Calado – Foto: Museu Municipal de Coronel Fabriciano

 

Até a construção da ponte, a balsa transportava também caminhões e automóveis entre o Calado e seu distrito Timóteo – Sobre a balsa um caminhão da Acesita – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

Raimundo Alves de Carvalho, muda-se para a Fazenda Angelina, quando em 1944, recebe a visita de Dr. Alderico, então representante da futura siderúrgica que se instalaria no local. Dr. Alderico Rodrigues de Paula identifica-se dizendo interessado em comprar a fazenda. Segundo o livro “Histórias de Timóteo”, da escritora Zaíra de Carvalho, irmã de Raimundo Alves, seu irmão negou-se a vender sua propriedade, quando o funcionário da recém fundada Cia. Acesita, ameaçou desapropria-la. Diante da ameaça, Raimundo Alves foi atrás do advogado Dr. Noronha Guarani, em Belo Horizonte, onde este o assegurou que não havia lei que obrigasse um cidadão vender seu imóvel, porém, recomendou Raimundo Alves escrever para Getúlio Vargas, então Presidente da República, sobre a ameaça e qual melhor decisão tomar. Raimundo Alves e Getúlio Vargas eram correligionários político, o que facilitou a aproximação. Assim foi feito, Raimundo Alves enviou um telegrama para o então Presidente da República no Rio de Janeiro.

Em poucos dias, o Governo Federal responde o telegrama afirmando que nenhuma lei respaldava a desapropriação do imóvel, porém, o então prefeito de Antônio Dias, Valdemir de Castro, que era amigo de Dr. Alderico e entusiasta da instalação da Acesita no município, reteve o telegrama.

Oportunamente, Dr. Alderico pressiona Raimundo Alves, oferecendo-o mil contos de réis na fazenda e nada mais. Passados 30 dias, após o negócio concluído, e a escritura passada, o telegrama retido nos Correios em Antônio Dias chega às mãos de Raimundo Alves afirmando que a lei o protegia dos interesses da companhia. Entretanto, sua fazenda já pertencia a Cia Aços Especiais Itabira. Com o dinheiro, Raimundo Alves compra outra fazenda em Santo Antônio, municipio de Marliéria.

Além de farmacêutico, Raimundo Alves assumiu em 1941 o cargo de Juiz de Paz de Timóteo, e em 1952 foi nomeado Inspetor Escolar de Coronel Fabriciano. Escreveu vários poemas e trabalhou durante anos escrevendo a Enciclopédia de Minas Gerais em três volumes. Foi vereador e prefeito de Coronel Fabriciano por duas legislaturas.

Raimundo Alves de Carvalho – Acervo particular (Familiares de Abel de Carvalho)

Entrevista

Em entrevista à escritora Zaíra de Carvalho, Dr. Alderico afirmou que, ao chegar na região para comprar as terras onde poderia instalar a usina, todas as terras à esquerda do Rio Doce, até Governador Valadares foram adquiridas pela Cia. Belgo Mineiro. Porém, o Calado oferecia todas as condições para a instalação da usina, tendo água e madeira em abundância, topografia favorável e proximidade com a ferrovia, por onde transportava o minério de Itabira. Dr. Alderico então procurou o político Lauro Pereira no Calado e falou sobre seu interesse em comprar terras na região, isto é, sem mencionar que era para a instalação de uma grande usina, evitando assim, especulação. O político então indicou Raimundo Alves de Carvalho, dizendo que ele possuía uma terra plana na margem do Rio Piracicaba, e que era só atravessar o rio. No primeiro contato ele ouviu um sonoro não de Raimundo Alves. Detalhando as articulações para convencer o farmacêutico, Dr. Alderico orgulhava-se de ter convencido Raimundo Alves e de ter comprado a fazenda pelo menor preço. Segundo ele, no final do negócio, pagou apenas pelas benfeitorias, a terra saiu de graça. Com o dinheiro, Raimundo Alves comprou uma terra em Santo Antônio (Marliérai).

Da vasta mata que se extendia até a margem do Rio Piracicaba, foi retirada a madeira que construiu a Fazenda D. Angelina e utilizada na construção da usina. No local, foi cravada a pedra fundamental da Acesita, atual Aperam South America. – Foto: Acervo Particular (Zaíra de Carvalho)

 

Uma serraria de grande porte beneficiava a madeira que serviu aos primeiros assentamentos da usina – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

 

Toda a mata deu lugar a usina – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

 

No início da década de 1940, a usina começa a ser erguida – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

Após a aquisição, a sede da fazenda foi transformada em hospedagem de engenheiros e técnicos que chegavam para os primeiros serviços.

Com o nome Hotel Acesita, durante anos, o imóvel tornou-se o epicentro da urbanidade operária que se formava nas proximidades da usina.

Nos arredores do Hotel Acesita diversas instalações foram construídas para atender aos funcionários da usina – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

 

O centro administrativo da usina, posto de saúde, armazem e outras instalações – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

 

Também nas proximidades do Hotel Acesita, foi construída a igreja São José – Foto: Acervo Fundação Aperam Acesita

Enquanto a siderúrgica construía suas bases, era erguida as vilas operárias, como Quitandinha (cujo nome fazia referência ao famoso cassino Quitandinha do Rio de Janeiro), Vila dos Técnicos (residencial exclusivo aos técnicos e engenheiros), Bromélias (local onde extendia uma grande mata com forte incidência da bromélia da espécie cattleya), Olaria (onde o  Forno Hoffmann produzia os tijolos das construções) e Funcionários. Nas proximidades do Hotel Acesita, era construído o centro administrativo da empresa, seus armazéns, a garagem, a igreja São José, Posto de Saúde, o Elite clube e outros.

Durante anos, o imóvel permaneceu ali, preservado, no centro da região que se tornara um importante centro comercial do município, denominado mais tarde como Centro Norte.

Fachada do antigo Hotel Acesita, na década de 2010 – Foto: Elvira Nascimento

 

Interioir do antigo Hotel Acesita

Nos últimos anos, a edificação abrigou o famoso Restaurante Monte Alto, vindo a ser demolido no dia 9 de julho de 2022, quando faria 84 anos.

Fontes de pesquisa: Histórias de Timóteo – Zaíra de Carvalho

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2 Comentários

  • Leila Cristina Monte Alto Ottoni Letro disse:

    Sou neta da dona Maria Monte Alto. O Hotel Acesita é a história da minha vida. Que maravilhoso saber toda a história. Aqueceu meu coração! Obrigada por isso! ❤️

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