Antiga estação de Ana Matos, ligava Jaguaraçu e Marliéria ao mundo
A rara fotografia, datada entre as décadas de 1940/50, registra a antiga estação de Ana Matos, localizada no km 484,882 da EFVM, demolida após a mudança do traçado da linha, na década de 1960. A estação no município de Antônio Dias, atendia a população de Marliéria e Jaguaraçu, que atravessava o rio Piracicaba em canoas ou botes para embarcar nos trens diários da Vitória a Minas.
Era ali, na plataforma que as duas populações compartilhavam suas saudades e desembarcavam as mercadorias que abasteciam suas vendas e embarcavam cereais e mercadorias produzidas em suas terras.
Sobre o nome da estação, inaugurada em 1º de agosto de 1929, há duas versões: diziam que no local funcionava uma venda pertencente a uma mulher de nome Ana Matos. Ela era proprietária da Bocaina, serra da Baratinha. Ana Matos veio para a região junto com a família Brito, família D´Ávila Carvalho. A outra versão é que o nome originou do Ribeirão Ana Matos, um curso d´água que atravessava sob a linha no antigo km 485.
Trens de passageiros
Até sua demolição, quatro trens diários de passageiros atendiam todo o percurso ferroviário entre Vitória (ES) a Nova Era e Itabira.
O trem Expresso, descendo de manhã, parava em Ana Matos às 9h05 e subindo, às 13h53. Este parava em todas as estações. À noite, o Trem Noturno com destino a Belo Horizonte, parava em Ana Matos às 0h17. O trem Rápido, também descendo e subindo algumas horas depois do trem Expresso, parava apenas nas estações principais.
Além de passageiros, mercadorias que abasteciam o comércio de São José do Grama (Jaguaraçu) e Babilônia (Marliéria), também desembarcavam nos trens diariamente. Dali, seguia para a outra margem do rio em canoas, onde os tropeiros as aguardavam para transporta-las até os povoados.
Na plataforma da estação de Ana Matos, embarcavam também grande volume de cereais, rapadura e açúcar, produzidos nas duas comunidades, com destinos diversos.
Variante de Sá Carvalho
Com a construção na década de 1960 da Variante de Sá Carvalho pela Construtora Tratex, obra que retirou o antigo traçado ferroviário literalmente da margem do rio, a estação foi demolida, bem como as estações de Baratinha e de Sá Carvalho.
Matriz de São José em Jaguaraçu
Ao mesmo tempo que avançava a construção da variante ferroviária, do outro lado do rio, em Jaguaraçu, inicia-se a construção da nova igreja Matriz de São José.
Devido a necessidade de retirada de grande volume de terra para a instalação da nova igreja, uma comissão formada por jaguaraçuenses, dirigiu-se ao proprietário da Construtora Tratex, o engenheiro Ajax Rabelo, em Sá Carvalho e o solicitou ceder seus tratores para o tal serviço.
Sabendo que os representantes da igreja não tinham dinheiro para pagar o vultoso serviço das máquinas, ele pediu em troca, uma imagem de um santo que fosse uma relíquia de expressivo valor histórico. Retornando a Jaguaraçu, a comissão localizou uma imagem de um santo do século XIX de uma família tradicional do lugar e a levou para o empreiteiro. Satisfeito, o engenheiro autorizou o envio de um trator de esteira D-7 acoplado a um scraper para Jaguaraçu executar a terraplanagem.
Com os serviços concluídos, uma maratona épica, que envolvia toda a população de Jaguaraçu, coordenado pelo padre Otacílio, inicia-se a construção da nova Matriz.
Produtores rurais, quitandeiras, carpinteiro, pedreiros, ajudantes de serviços doavam um dia de produção da semana para a igreja. Era uma corrente voluntariosa em devoção e honra a São José como nunca visto.
Com a abertura das rodovias, dentre elas a MG-4, ligando a região à capital mineira, a pavimentação das estradas ao longo da margem do rio Doce e a implantação das linhas de ônibus, a EFVM extinguiu dois trens de passageiros. permanecendo apenas os atuais trens diários.
O nome Ana Matos permanece naquele lugarejo, ligado ao passado de Jaguaraçu e Marliéria e também à BR-381 por botes, que desde então, faz a travessia em um rio cada dia sem profundidade para navegar, desolado, assoreado e poluído.