HOME HEADER 1 – FABRICIANO – IPTU PREMIADO

Foi por pouco, por pouco mesmo, que um dos mais importantes instrumentos da Co-Catedral de Fabriciano, o órgão de tubos fabricado na Holanda, não foi destruído com o desabamento de parte do telhado da igreja.

O raro instrumento, que escapou de ser atingido pelo grande volume de materiais que despencou de um teto com mais de 15 metros de altura, está sendo totalmente desmontado em meio aos pedaços de concreto e aço espalhados no interior da igreja. O órgão será remontado na Matriz de São Sebastião, local onde foi instalado na década de 1980.

Cuidadosamente organizados, os tubos em metal e madeira variam de 2,70 metros, a 1 centímetro de comprimento – Foto: Mário de Carvalho Neto

O órgão de tubos, fabricado em 1954 na Holanda, pela empresa C.A. Vlot, foi adquirido pelo então bispo da Diocese Itabira/Coronel Fabriciano, dom Lélis Lara, de uma igreja presbiteriana na cidade mineira de Lavras, antes mesmo de seu bispado. O instrumento chegou a Coronel Fabriciano em 1982, sendo instalado na Matriz de São Sebastião, onde foi necessário alterar o formato do altar da Matriz para acomodar o volumoso aparelho.

Devido ao transporte e a instalação ter sido realizada por pessoal pouco especializado, o instrumento, não funcionou plenamente, como esperava dom Lara. Neste período, dom Lara convida o organeiro Ricardo Clerici para avaliar o reparo do instrumento e fazer uma proposta. Ricardo, é um dos poucos construtores de órgãos de tubo no país, e seu atelier localiza-se na cidade paulista de Caieiras.

Dom Lara então inicia uma caminhada na busca de recursos para realizar o necessário restauro do instrumento, e colocá-lo em pleno funcionamento. Dom Lara não só era um admirador de composições elaboradas com órgãos, como era um exímio organista. Ele executava também harmônios e cravos. Dentre as ações visando arrecadar o recurso financeiro, o organista titular da capela do Colégio Santa Marcelina em Belo Horizonte, Lucas Raposo, realizou um concerto na capital mineira, doando parte da bilheteria para o restauro. No prestigiado evento, Raposo executou célebres composições no maior órgão de tubos de Minas Gerais, com 1.600 tubos. Outro destacado doador financeiro, foi o político fabricianense, Carlos Cota.

Dom Lara, exímio organista, se apresenta na Co-Catedral em seu harmônio, fabricado no ateliê de Clarici – Foto: Ailton Avelino

Em 1993, com a inauguração da Co-Catedral, o órgão foi transferido da Matriz para o novo templo, vindo a abrilhantar diversos eventos litúrgicos com seu harmonioso som. Em 2014, 31 anos depois, dom Lara convida novamente Ricardo Clerici para recuperar o instrumento, que necessitava de um preciso afinamento. Clarici então remove o instrumento e o leva até seu ateliê para realizar o restauro.

Durante essa semana, o organeiro Ricardo Clerici retornou a Coronel Fabriciano para provavelmente, realizar um de seus maiores desafios, desmontar o órgão em meio a uma delicada operação sob um teto, cujo risco de desabar pode ser de baixo ou alto grau.

O mestre organeiro Ricardo Clarici desmonta o órgão da Co-Catedral – Foto: Mário de Carvalho Neto

O órgão já desmontado, cujas peças se encontram organizadamente alinhados, foi construído à base de carvalho europeu, madeira nobre, ideal para este tipo de instrumento musical, é composto de fole, someiro (do grego, soma: corpo), tubos (flautas em madeira e metal) e console (local dos teclados de mão e pé, e registros). Considerado um instrumento litúrgico de pequeno porte, o instrumento conta com 229 tubos, cujas dimensões variam de 2,70 metros a 1 cm.

À base de carvalho europeu, madeira nobre, o órgão passará por reparos em sua estrutura – Foto: Mário de Carvalho Neto

 

O console do órgão também passará por restauro – Foto: Mário de Carvalho Neto

Suas peças serão guardadas na sede da paróquia de São Sebastião, onde em um outro momento, o organeiro retornará a Coronel Fabriciano para remonta-lo na Matriz.

No atelier de Ricardo Clerici, foi construído um harmônio para dom Lara. Durantes anos, o instrumento permaneceu em seus aposentos, onde o inspirou compor algumas composições as quais foram eternizadas em um CD (compact disc), patrocinado pela Fundação Emalto.

Órgão de tubos do Santuário do Caraça, de 1885, restaurado por Ricardo Clarici – Foto: Ricardo Clarice

No atelier foi construído também o órgão de tubos da igreja de São Sebastião, no bairro Barro Preto em Belo Horizonte. Este, segundo o metre organeiro, é o maior construído por ele. Outro importante trabalho de Clerici, foi o restauro do órgão do Santuário do Caraça, construído em 1885. Seu restauro aconteceu em 1985, um século depois.

Outras atividades do Atelier Clerici, é restauro e automação de relógios históricos, fundição de sinos, reestruturação de carrilhões antigos e automação.

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