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Artesanato feito em casa

O presente artigo consiste na apresentação de pesquisa artístico-cultural não acadêmica, com objetivo de empreender investigação relacionada ao Artesanato, no sentido de valorizar o artesão, conhecendo sua produção como forma de expressão, assim como criar subsídios para um início de entendimento do artesanato como um atrativo turístico em si próprio.

O período da pesquisa ocorreu entre 2018 a 2021, sendo realizada   via google forms. O questionário objetivou quantificar e estabelecer critérios voltados à conceituação do artesanato, a partir de coleta de informações sobre a prática cotidiana de artesanato nas cidades da Região Metropolitana do Vale do Aço, em especial as circuitadas em arranjos produtivos que pudessem estabelecer relação da prática artesanal com o desenvolvimento do setor turístico local e regional.

Estavam envolvidos na pesquisa, aspectos de interação da comunidade praticante de trabalhos manuais, para observar a possível vocação desta prática como uma expressão cultural regional.

A pesquisa iniciou- se com a coleta dos dados através das perguntas:

  • Nome, e-mail, endereço, contato, celular e WhatsApp;
  • Cite os 3 principais tipos de Artesanato que você produz:
  • Quanto tempo você se dedica na semana para produzir Artesanato?
  • Quais as 3 principais matérias-primas que você utiliza?
  • Dentre as funcionalidades listadas, marque a que melhor representa a sua Produção Artesanal?
  • Qual o tema principal você trabalha em suas peças?
  • Cite dois tipos de Artesanato que você ainda não faz, mas tem habilidade e gostaria de produzir?
  • Você participa de alguma Associação ou Núcleo de Artesanato?

Foram recebidas respostas de artesãos das cidades de Timóteo, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Santana do Paraíso, Marliéria, Belo Oriente, Antônio Dias, Inhapim, Dionísio, Mesquita, Ipaba e Vale Verde, em proporção conforme gráfico abaixo:

Gráfico- Percentual de respostas por cidades.

Com a busca de informações sobre a temática, foi possível apurar ocorrência de aspectos cognitivos e de memória coletiva, observando memória comum que pudesse despertar o sentido de pertencimento da comunidade de artesãos, compartilhando identidade cultural própria.  A temática floral foi predominante, seguida pela produção com a temática infantil.

Através da amostragem sobre o tempo dedicado na semana para produzir Artesanato demonstram que 27% das artesãs se ocupam 7 dias da semana dedicadas à prática, seguidas por 32,2% que se ocupam durante 5 dias na semana para produzir artesanato. Este dado revela uma potencialidade da atividade como economia e geração de renda, observada a disponibilidade para se produzir, o que deve ser, periodicamente, confrontado com as possibilidades de comercializar esta produção.

Aplicando- se as definições do PAB   sob as formas de organização de artesãos, buscou- se conhecer sobre a participação de cada participante em associação ou núcleos.

Observando- se a base conceitual, pode- se afirmar que muitas respostas recebidas até 2020, apontavam problemas de entendimento, pelos artesãos, de alguns significados propostos na base conceitual do artesanato brasileiro- que apresenta definições claras e precisas acerca da criatividade humana e formas de saber fazer através das habilidades manuais, para regulamentação da prática artesanal. A observação desta questão, se deu, em especial,  sobre os conceitos relacionados à classificação de matérias primas, técnicas e funcionalidades, assim como a diferenciação entre artesanato e trabalho manual.  Buscando facilitar o entendimento da base conceitual, em 2021 a metodologia de coleta foi reformulada para atualização, aprimorando-se o questionário para geração de indicadores, classificando as informações coletadas anteriormente e inserindo novas, aprimorando a ferramenta que objetiva, de modo  abrangente, entender como se produz artesanato e trabalhos manuais, e a partir disso, criar novas formas de requalificar e potencializar a relação da prática artesanal com o desenvolvimento do turismo regional no leste de Minas, na região do Vale do Aço- MG.

A amostragem de 2021 teve participação de 23 artesãos dos municípios de Timóteo, Ipatinga, Marliéria, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e Ipaba.

Visita presencial realizada durante ações culturais nas associações de artesanato localizadas nos municípios de Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga, oportunizaram observar a evolução de coletivos criativos (em duplas e trio de artesãos membros e integrantes de associações, seja, pela afinidade em relação à técnicas, criatividade ou pela própria demanda de mercado/ encomendas) e  também a sensibilização  das lideranças sobre a perspectiva de produção artesanal associada ao turismo em desenvolvimento integrado nas cidades do Vale do Aço.

Na atualização das informações, mais da metade dos que responderam ao questionário possuem Carteira Nacional do Artesão.

Na amostragem, a maior parte dos artesãos trabalham com o artesanato  a mais de 10 anos. Cerca de 34% dos artesãos já trabalham com o artesanato por 2 a 10 anos, e uma pequena parcela trabalha a menos de 2 anos.

 

 

As principais técnicas artesanais utilizadas são: costura, bordado e crochê, mas também foram identificadas outras técnicas, como reciclagem, pintura e decoupage. Como técnicas artesanais secundárias, foram identificadas principalmente aquelas que fazem uso de tecidos, linha e costura, como o bordado, macramê e outras.

 

A maioria dos artesãos (39,1%) dedica os 7 dias da semana para as práticas artesanais. O restante se dedica, no mínimo 2 dias.

87% dos artesãos utilizam fios e tecidos em suas produções, entretanto, também há considerável uso de papéis, cera, parafina, gesso e demais materiais sintéticos.

A amostragem revela que 60,9% das artesãs considera sua produção artesanal como tradicional, e 26,1% entende a produção como contemporânea e conceitual.

Os produtos artesanais produzidos na região do Vale do Aço e arredores possuem funcionalidades diversas, entre elas: presentear, decorativa, lúdica e utilitária.

Os temas presentes nos artesanatos também são diversificados, podendo ser desde paisagens e animais à acessórios femininos e utensílios de cozinha

Os preços dos artesanatos variam de acordo com o produto ofertado, variando de R$0,50 a R$400,00. Contudo, a faixa de preço média dos produtos é de R$50,00.

A grande maioria dos artesãos já participou de feiras, o que confirma a disponibilidade e o empreendimento de esforços dos mesmos para a comercialização de artesanato. As feiras, além de ação cultural, são também importantes atrativos turísticos que devem ser potencializados e, assim, favorecem a prática artesanal, tornando- se indispensáveis na evolução da produção de artesanato regional, pois,  a partir da consolidação de calendário de eventos, alarga- se a possibilidade de desenvolvimento de produtos temáticos, gerando maior competitividade a partir da criação de novas linhas de produtos, coordenados com a atividade turística, em desenvolvimento no Vale do Aço.

Como conclusões e apontamentos, o mapeamento da prática artesanal no Vale do Aço, revela algumas perspectivas a saber:

  • Promoção de ações intermunicipais envolvendo as lideranças e artesãos, oportunizando maior intercâmbio e favorecendo novos coletivos criativos, a partir da atuação em rede.
  • Criação de fórum de debate sobre a prática artesanal no Vale do Aço, no intuito de fortalecer as associações e favorecer a representatividade do artesanato junto às pautas correlatas, como cultura, patrimônio cultural e turismo.
  • Requalificação da prática artesanal: produção orientada para atendimentos temáticos (mercado consumidor), forma de apresentação de produto artesanal, o artesanato como um atrativo turístico.
  • Aproximação dos grupos com a Federação do Artesanato Mineiro, tornando mais conhecido o artesanato como forma de expressão cultural do Vale do Aço.

A partir deste  mapeamento busca- se preencher a lacuna de se conhecer com mais precisão como e onde é feito e distribuído o artesanato e trabalhos manuais na região, no interesse  em  se estabelecer indicadores adequados, tanto para o nível de gestão de políticas culturais e fomento ao turismo e de associações,   quanto para os próprios artesãos que, através desta abordagem, podem empreender maior sustentabilidade em sua produção, contribuindo assim para  a crescente expressividade e valorização do artesanato  no estado de Minas Gerais.

Joana Angélica Oliveira Gonçalves é arquiteta, pesquisadora e empreendedora cultural.

Atua no campo cultural há mais de 10 anos, em atividades voltadas à preservação do patrimônio cultural e economia criativa.

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