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Atividade ligada à informação, conhecimento, cultura e entretenimento amarga crise que parece ter vindo para ficar

Ao procurar nas bancas de revistas e jornais da região Centro Norte de Timóteo uma publicação específica, deparei com algo que me surpreendeu: duas das principais bancas do mais movimentado setor comercial da cidade, haviam se transformado em lojinhas de acessórios de celulares e artigos chineses. Em uma delas, em meio à carregadores, capinhas de telefones, headphones e pendrives, encontrava-se algumas edições da coquetel (palavras cruzadas), em local de pouco destaque. Certamente que a minha surpresa, deve-se principalmente ao fato de eu ter perdido o hábito de ir às bancas de revistas e jornais nos últimos anos, integrando-me ao novo comportamento da sociedade, que é buscar informações nas milhares de opções na internet.

Campeã em venda de revistas no passado, a banca da Rua 31 de Março em Timóteo é hoje lojinha de acessórios de telefone celular – Foto: Arquivo Revista Caminhos Gerais

A situação das bancas de revistas e jornais é a ponta do iceberg dos colossais desafios vividos pelas editoras no Brasil e no mundo. Alguns atribuem a principal causa da crise, à internet, especialmente pela avalanche de conteúdos exibidos pelos diversos canais digitais e pela velocidade com que chega as notícias. Outros atribuem à pandemia, que além dos lockdowns, o manuseio de revistas, principalmente em recepções, passou a ser visto como um potencial propagador do vírus. Há também aqueles que veem como causa, a diminuição do poder de compras das pessoas. Entretanto, são inúmeros os fatores que refletem direta e indiretamente neste importantíssimo segmento da informação, fomentador de conhecimento, entretenimento e cultura.

Os índices de queda de publicações tradicionais nos últimos anos são alarmantes. Os resultados negativos não atingiram apenas as edições impressas. Suas publicações online, isto é, as versões digitais por assinatura também tiveram queda acentuada, isto é, cerca de 21%, apontam dados do Instituto Verificador de Comunicação para o jornal digital Poder360.

Estes números tem como referência sete dos principais veículos que circulam no país: Veja, Quatro Rodas, Época, Exame, Vogue, Revista Piauí e CartaCapital. No caso de Época, essa publicação foi descontinuada em maio de 2021 e tornou-se seção do jornal O Globo.

A tiragem somada dos sete veículos entre 2015 e 2021, teve uma redução de aproximadamente 87%, de 1,75 milhão para 220 mil. Já em relação aos últimos dois anos (2020 e 2021), as revistas que apresentaram as piores quedas da versão impressa foram: a CartaCapital que perdeu 5.804 exemplares (retração de 73%); Exame, que teve redução de 11.114 cópias (-44%) e Veja, que distribuiu 51.290 exemplares a menos (-36%).

A revista Veja, que no passado foi uma das maiores tiragens impressas do planeta, imprimindo mais de 1 milhão de exemplares por semana, mantendo em 2015 uma tiragem média de 960 mil, terminou 2021 com 92.850 cópias em papel, em média, por edição.

Diferentemente do que aconteceu com os jornais, que apresentaram crescimento de suas versões digitais em 2021, os modelos on-line das sete revistas escolhidas tiveram resultado negativo, da mesma forma que suas versões impressas. Encabeçam a lista de piores quedas CartaCapital (-91%), Quatro Rodas (-23%) e Veja (-22%).

Somadas, as versões digitais e impressas apresentaram queda de 144.412 exemplares, entre 2020 e 2021. Segundo o ranking, os piores resultados são de CartaCapital (-83%), Veja (-29%) e Exame (-21%). Em 2015, as sete revistas chegaram a ter mais de 2 milhões de exemplares vendidos, número que caiu para 430 mil em 2021.

Vale do Aço

Até o início da década de 2010, a região do Vale do Aço produzia mais de 20 revistas nos diversos segmentos: social, festas, noivas, turismo, casa, arquitetura e outras, além de jornais diários e semanários. Apenas a Gráfica Damasceno em Coronel Fabriciano, imprimia mais de 15 títulos, segundo seu diretor comercial Júnior Damasceno.

Além de algumas revistas impressas priorizarem publicações online, como a revista Caminhos Gerais e revista Chique, diversas outras simplesmente desapareceram. Os jornais Diário do Aço, Diário Popular e o semanário Classivale, O Vale Evangélico e o Jornal Resenha do Vale do Aço, distribuição gratuita em Ipatinga e O Informante, de Timóteo, mantiveram suas periodicidades até os dias atuais, seguidos pelas revistas Empresarial, Shooters, Mais Vip entre outras.

A Revista Caminhos Gerais digital, vem mantendo sua segmentação desde sua fundação em 2001

Além de revistas, grandes jornais impressos também sofreram forte impacto nos últimos anos. Atualmente, é raro encontrar nas poucas bancas que restaram na região, jornais da capital, como O Tempo, O Estado de Minas, Hoje em Dia ou mesmo o popular Super. De acordo com o diretor do jornal O Informante, Márcio de Paula, o preço do papel teve uma elevação significativa na planilha de custo do jornal. Para ele, driblar os elevados custos de impressão, preservando intocada a excelência da informação, tornou-se um desafio ainda maior.

O Informante

Segundo o diretor do semanário O Informante, Marcio de Paula, o jornal nasceu na transição do Cruzado para o Real em 1996. Segundo Márcio, a inflação batia os três dígitos por ano, quando o Plano Real trouxe uma estabilização de preços. Porém, a variação dos preços nos supermercados da região continuaram abusivos, chagando a até 100% de diferença entre uma loja e outra, inclusive no mesmo bairro.

Márcio então teve a ideia genial, criar um veículo gratuito de nome O Informante, e publicar os preços dos três maiores supermercados de Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga, mediante uma exaustiva pesquisa in loco. O Informante em pouco tempo tornou-se referência e uma espécie de tabela de preços, conquistando a confiança do consumidor. Após o sucesso do veículo e um perceptivo nivelamento dos preços, Márcio investiu em pesquisas de outros segmentos, como auto-peças, materiais escolares, CDs entre outros, alcançando seu principal objetivo, que era prestar um serviço à comunidade. Márcio recorda que durante o período das pesquisas, ele observava nos supermercado diversos consumidores com O Informante nas mãos comparando os preços.

Como a periodicidade era semanal, Márcio percebeu que havia espaço para reportagens mais elaboradas, criando então novas seções e ampliando o leque de informações.

Responsável pelo editorial do O Informante, Márcio, vem dedicando aos diversos temas, com destaque para assuntos econômicos, proporcionando ao leitor uma análise crítica e reflexiva sobre asprincipais notícias da semana.

 

O Informante, com sede em Timóteo, há 26 anos cobrindo todo o Colar Metropolitano do Vale do Aço

Segundo o empresário Osvaldo Henrique Oliveira, proprietário da mais completa banca do Horto, bairro de Ipatinga, provavelmente uma das poucas sobreviventes dessa crise que avassala o segmento, diversas publicações nacionais desapareceram, apontando os segmentos automobilístico, de comportamento, moda e fofocas como os mais atingidos. Osvaldo disse ainda que havia mais de cinco revistas automobilísticas, restando apenas a 4 Rodas, no entanto, cada dia mais fina, isto é, com menos páginas.

Na mais completa banca da região, a Banca do Osvaldo, no bairro Horto, em Ipatinga encontra-se todos os títulos em circulação – Foto: Arquivo Revista Caminhos Gerais

Já o diretor da Distribuidora Quintão, Wagner Quintão, filho do novaerence Adolfo Quintão, pioneiro na distribuição e venda de revistas na região, instalando a primeira banca próxima a estação ferroviária de Coronel Fabriciano nos anos 1960, acredita que a internet com suas inúmeras fontes de informação e sua velocidade, tenha contribuído para a crise. Outro fator que Quintão aponta como responsável, iniciou na década de 2010, com a morte de Roberto Civita, proprietário do Grupo Abril, editora responsável pelo maior número de publicações segmentadas do país. A extinção de várias revistas da Abril, devido ao declínio da editora e também da distribuidora, que mantinha o monopólio em quase todo o território nacional, o mercado de revistas foi abalado vertiginosamente.

Adolfo Quintão, pioneiro na distribuição e vendas de revistas em sua primeira banca em Coronel Fabriciano – Foto: acervo particular

O empresário disse ainda que atualmente, a Distribuidora Quintão, que cobre grande parte do Leste mineiro, trabalha com a sexta parte do que trabalhava anos atras. Segundo Quintão, um grande número de bancas, fecharam na região, e as que permanecem, são mantidas quase que com a venda de gibis. Revistas em quadrinhos são as que menos sofreram queda, disse.

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