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Cidade do século XVII, fundada no Ciclo do Ouro, desenvolveu-se como importante entreposto comercial

Provavelmente por pertencer à Grande Belo Horizonte, sufocada pela conurbação acelerada, Santa Luzia, cidade que guarda belíssimos casarios em seu conjunto arquitetônico colonial e uma magnífica igreja matriz adornada com obras atribuídas a Aleijadinho e discípulos do Mestre Athayde, seus altares e retábulos barroco e rococó talhados em ouro, pouco é acolhida por turistas que contemplam a rica história de Minas Gerais.

Apesar de Santa Luzia integrar ao Mapa do Turístico Brasileiro, do Ministério do Turismo (www.mapa.turismo.gov.br/mapa), a cidade não pertence ao Circuito do Ouro, importante roteiro turístico das cidades coloniais de Minas Gerais na região central do estado. O padre Felipe Lemos Queiros, da Paróquia Santa Luzia, afirmou que o tema cultural e turístico no município recebe pouca atenção do poder público municipal. Ele acredita que mais engajamento dos diversos setores que compõem a cadeia produtiva do turismo, Santa Luzia se sobressairia mais como destino turístico.

O padre, conhecedor profundo da história do Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, considera o templo católico como um dos mais representativos das tradicionais manifestações religiosas de Minas Gerais, e destaca o mês de novembro, quando a cidade é tomada por peregrinos em romaria, em celebração ao dia da santa.

A Santuário Arquidiocesana de Santa Luzia, de 1777, guarda em seu interior o encantamento da arte barroca e rococó – Foto: Elvira Nascimento

 

O teto do Altar Mor da capela, representa a glorificação de Santa Luzia, atribuída a discípulos do Mestre Athayde  – Foto: Elvira Nascimento

 

O teto da nave, representando a Assunção de Nosa Senhora, também é atribuído aos discipulos do Mestre Athayde – Foto: Elvira Nascimento

 

A riqueza da arte barroca representada pelos anjos e colunas texturizadas em ouro – Foto: Elvira Nascimento

 

A igreja de Nossa Senhora do Rosário, também na Rua Direita, próxima ao Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, celebra o dia da Santíssima Virgem e Mãe do Rosário, em outubro – Foto: Elvira Nascimento

 

Sobre um elevado, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário recebeu a benção oficial em 1756 – Foto: Elvira Nascimento

Felipe Lemos conta ainda que a história, aponta um pescador chamado Leôncio, que tinha problemas na visão, como marco do sentido da fé, na que se tornou padroeira da cidade. Este, observou um objeto brilhando no rio sobre a areia. Ao pegar, era a imagem de Santa Luzia, a santa protetora dos olhos, e assim se deu o primeiro milagre, já que na mesma hora ele volta a enxergar. A imagem foi levada para a primeira capela do arraial, à margem do Rio das Velhas, tornando-se a padroeira do município. Chegando a Portugal, noticia os milagres que estavam sendo operadas pela padroeira do Bom Retiro de Santa Luzia, o Sargento Mor Joaquim Pacheco Ribeiro, que estava desenganado pela ciência medica da sua Pátria, volta sua última esperança para o poder divino. Faz um voto à Santa milagrosa do sertão mineiro, pedindo-lhe a visão perdida de sua filha. Como recebeu o milagre, o nobre filho da terra lusitana não duvidou em dar cumprimento ao voto que fizera e vem com suas filhas Ana Senhorinha, Angélica e Adriana, começando a construção do templo, onde hoje está a Matriz de Santa Luzia. Este, localizado na Rua Direita, no Centro Histórico, iniciado a construção em 13 de dezembro de 1758 e totalmente concluído em 1777. O ouro empregado em toda construção de decoração interna foi doado por Antônio Martins Gil, extraído no Rio das Velhas. O serviço de moldura de talha foi feito por Felipe Vieira e Francisco de Lima Cerqueira. Em 2001, recebe o título de Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia devido a expressiva perigrinação de romeiros e fieis, especialmente em dezembro.

Em documento de 1752, o bispo de Mariana, D. Frei Manoel da Cruz, propõe a transferência da sede da paroquia do arraial de Roça Grande para o de Santa Luzia, justificando: “(…) O arraial de Santa Luzia é um dos mais populosos das Minas e a sua Igreja é nova, com bastante grandeza e bem paramentada, estando quase no meio da freguesia, circunstâncias todas que concorrem para V. Majestade ser servido mandar fazer a sobredita mudança (…)” vindo a efetivar-se após uma série de reveses com a paroquia de Roça Grande.

Relógio

Relógio de 1778 funcionou na torre da Matriz com apenas um ponteiro até 1947, quando foi instalado o ponteiro de minutos – Foto: Elvira Nascimento

Outra peça de grande valor histórico, é o relógio instalado na torre direita da Matriz. Instalado em 1778, o relógio funcionou até 1947 com apenas um ponteiro. Neste ano, a mando do prefeito Emílio Bernardo Zeymer, foi instalado o ponteiro de minutos.

Origem

Santa Luzia tem sua história ligada aos primeiros aventureiros em busca de riquezas na capitania. Tudo começou, em 1692, durante o ciclo do ouro. Uma expedição dos remanescentes da bandeira de Borba Gato implantou o primeiro núcleo da Vila, as margens do Rio das Velhas, no qual se fazia garimpo de ouro de aluvião. Em 1695 uma grande enchente do rio destruiu todo o povoado, localizado próximo ao atual bairro de Bicas, então o pequeno vilarejo mudou-se para o alto da colina, onde hoje, é o Centro Histórico da cidade. Em 1697, ergueu-se o definitivo povoado, que recebeu o nome de Bom Retiro. Em 1724 foi criado a Freguesia de Santa Luzia, subordinado a Sabará.

Antes mesmo da construção da capital Belo Horizonte, Santa Luzia desenvolvia-se como importante entreposto comercial no entroncamento da estrada ligando o centro do estado ao sertão, Sul da Bahia e Rio de Janeiro. Estas configuran-se nas Ruas Direita, do Serro e Santa Luzia

 

Com grande parte de suas edificações em estilo colonial, cuidadosamente preservadas, o Centro Histórico de Santa Luzia é uma agradável viagem ao passado – Foto: Elvira Nascimento

 

Belos casarios remetem à Santa Luzia do século XVIII

 

 

O Museu Aurélio Dolabella, importante edificação do século XVIII passa por completa restauração

 

Entre as construções estilo colonial, em Santa Luzia pode-se contemplar também construções pós conloniais, representantes do estilo modernista – Foto: Elvira Nascimento

O povoamento definitivo de Santa Luzia teria surgido entre 1721 e 1729, no alto das colinas, em cujos vales corriam o córrego das Calçadas, o córrego Seco ou do Dantas e o córrego dos Cordeiros, socavados na época, por mineradores em busca de ouro. Seu desenvolvimento anos depois, deve-se também a estrada que ligava as Minas ao Norte e aos portos da Bahia.

No topo da colina, edificou-se primeiramente um rancho que acolhia numerosas tropas vindas de Sabará e outras localidades, pelas estradas que se cruzavam em forma de um “T” e que deram origem à rua do Serro, rua Direita e rua Santa Luzia. Porém, ao contrário da maioria das povoações mineiras da época, Santa Luzia cresceu e floresceu muito mais em função do comércio que da mineração.

Consta que Saint-Hilaire, viajante francês que ali passou em 1817, ressaltou a importância da Paroquia de Santa Luzia em seu papel de entreposto comercial do sertão, sendo ponto de parada para as tropas que transitavam entre o sertão e o Rio de Janeiro.

À medida que o arraial progredia, formava-se, ali, uma elite social abastada, com hábitos sofisticados da vida e cultura com marcante influência francesa. Santa Luzia, seguiu a tradição de importantes vilas mineiras, como Sabará e Diamantina, que cedo desenvolveram o gosto da literatura e do teatro. Já na segunda metade do século XVIII tem-se notícia da inclusão de peças teatrais no programa de suas festas cívico religiosas, além da realização de óperas em diversas vilas, como, por exemplo, em Sabará, em 1799.

Atrações turísticas

Além do centro histórico bem-preservado, Santa Luzia tem alguns atrativos turísticos, sendo o mais conhecido, o Mosteiro de Macaúbas, nos arredores da cidade. O prédio foi inaugurado em 1735 e funcionou por muitos anos como o primeiro colégio feminino do Estado.

Mosteiro Macaubas – Colaboração Prefeitura de Santa Luzia – Foto: Alexandre Nery

Lá se educaram filhas ilustres de Diamantina, de Chica da Silva e do padre Rolim. Quando o inquieto padre inconfidente foi para o degredo, sua mulher e filhos ficaram morando numa casa na entrada do convento.

Atualmente, as freiras da irmandade de Nossa Senhora da Conceição vivem em clausura em parte do mosteiro e fabricam doces, vinhos e licores, entre eles o famoso Vinho de Rosas.

Outros destaques são o Solar da Baronesa (1845), o Solar Teixeira da Costa, onde funciona hoje o Museu Aurélio Dolabella, o Museu Sacro, a Estação Ferroviária, a igreja do Rosário e a capela do Bonfim. Em breve, uma casa tombada pelos Patrimônios municipal e estadual na rua do Serro dará espaço ao Museu de Arte Sacra.

Ruas movimentadas em horário de pico, contrasta com a traquilidade típica do local – Foto: Elvira Nascimento

O espírito religioso dos luzienses realçava-se em algumas festas tradicionais. As mais famosas eram a da padroeira do lugar, em dezembro e a do Rosário, em outubro, promovida pelos negros, e a do Divino, pelos brancos, como parte dos festejos do “Ciclo da Ressurreição”. Todas estas festas representavam um folclore de caráter tipicamente profano religioso, mesclando heranças africanas e portuguesas, como danças, procissões, fogos, rezas, músicas e missas. A semelhança dos demais núcleos urbanos das Minas Gerais daquela época, as festas eram realizadas com grande pompa, atraindo para o local romeiros de toda a redondeza.

Para o turista que gosta de levar para casa as delícias produzidas na região, no Centro Histórico de Santa Luzia, no Armazém Agro Morro do Leite, encontra-se produtos regionais, como doce, queijo, biscoitos, licores, frutas, verduras e legumes orgânicos e artesanato – Foto: Elvira Nascimento

Cidade vizinha da capital mineira, cortada pela rodovia BR-381, sentido Vale do Aço, muitos que ali passam conhecem Santa Luzia apenas pelas placas estampadas à margem da rodovia. Há poucos quilômetros do trevo, o Centro Histórico de Santa Luzia, um dos mais ricos e bem conservados conjuntos arquitetônicos coloniais da região central do estado, sobressai sobre uma colina, onde pode-se ver o Sol se por no horizonte.

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