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Jailma Soares – Graduada em Serviço Social e pós graduada em Administração e Manejo de Unidade de Conservação.
Experiências em UC:
Parque Estadual do Rio Doce/IEF: desenvolvendo atividades de integração com o entorno – educação ambiental e uso público.
Parque Estadual do Jalapão/Naturatins: Gestora
Prefeitura Municipal de Timóteo: Elaboração e coordenação do Plano Integrado de Educação Ambiental.
Consultora GIZ no Brasil no Projeto de Cooperação Brasil-Alemanha para Prevenção, controle e monitoramento de queimadas irregulares e incêndios florestais no Cerrado. Ex-Presidente Rede Ambiental Verde Vida; Ex Presidente Associação dos Amigos do Parque Estadual do Rio Doce; Membro do Conselho Consultivo do Parque Estadual do Rio Doce e do Conselho de Defesa do Meio Ambiente de Timóteo.

Muitos desconhecem a motivação pela qual uma unidade de conservação é instituída pelo poder público, seja para uso sustentável visando compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais ou proteção integral para preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais.

Para melhor entendimento, conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Parque tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

A experiência como gestora do Parque Estadual do Jalapão, onde o turismo era desenvolvido antes de sua criação, me proporcionou estabelecer uma gestão participativa que convergisse o objetivo de um Parque e a regulação institucional com os interesses regionais. Ressalta-se que o turismo ecológico num Parque, deve ser regido pelo plano de manejo, entretanto, na maioria das unidades de conservação, os planos não possuem a devida atualização, fazendo com que a atividade ocorra de forma não condizente com a realidade, que pode causar impactos negativos e/ou ser implementado muito aquém da sua potencialidade.

Espécie de sempre-viva típica do Parque Estadual do Jalapão – Foto: Isa Klein

Para compreender o turismo ecológico, num Parque é importante refletir. Afinal, quem é importante. O Parque para o turismo ou turismo para o Parque?

Ter sido gestora do Parque Estadual do Jalapão, administrado pelo Instituto Natureza do Tocantins, foi um divisor de águas na minha vida, tanto pessoal como profissional. Aprendi a conhecer e conviver com as comunidades que vivem no interior e entorno respeitar o seu modo de vida e convergir ações socioambientais

Descrever essa experiência, no bioma Cerrado, nossa caixa d’agua, me traz realizações, entusiasmo, novos valores e orgulho.

Quando falo de valor, é pensar enquanto uma mão dupla seja para as comunidades quanto para os gestores. É fundamental trabalhar de uma forma cooperativa, pois o turismo é um segmento de relações, justa e injusta. Quando as comunidades compreendem a importância de um Parque para o seu negócio, as relações ficam mais próximas, percebe-se o sentimento de pertencimento, de respeito e consequentemente mais de sucesso. Da mesma forma, quando a instituição gestora compreende o valor da comunidade, da sua importância para se alcançar o seu objetivo, as coisas fluem melhor.

E quando essa relação é percebida pelos visitantes, tanto o Parque como as comunidades ficam muito mais atrativas e valorizadas. Ressalta-se aqui um avanço significativo nas relações desde a criação do Parque em 2001 e o ano atual.

As dunas do parque são partes integrantes da área permitida à visitação: foto: Jailma

O turismo ecológico tem naturalmente o dom de evidenciar, as especificidades e curiosidades locais, aguçam e proporcionam um sentimento de descobertas, de trocas de saberes, fazendo com que as pessoas se sintam parte desse local, do bioma. No meu caso, quando cheguei ao Cerrado, sendo do bioma Mata Atlântica, mesmo conhecendo as bibliografias, viajei nas cores, na tortuosidade das árvores, na sua capacidade de recuperação. Foi mágico, até hoje lembro de cada detalhe.

No turismo ecológico, é necessário compreender algumas regras e a sua fundamentação. No Parque Estadual do Jalapão, a sua exuberante beleza, provoca em muitos a vontade de capturar plantas e animais, praticar esportes radicais, intervir no modo de reprodução de alguma espécie, literalmente voar em seus encantos. Porém temos que entender que nem tudo é possível, e tem regras para que os recursos naturais não se esgotem, a exemplo como a legislação que proíbe rafting em trechos no Rio Novo devido à ocorrência do Pato Mergulhão, ave ameaçada de extinção e que é indicador de qualidade ambiental, e o Capim Dourado, fonte de renda das comunidades e um dos cartões postais de visita da região, devido ao espetáculo de artesanatos costurados pelas comunidades. Importante compreender que cada espécie tem seu motivo de estar ali, seja pelo clima, relevo, solo e outros e principalmente respeitar o seu processo reprodutivo e que é motivo de deleite de muitos que ali visitam.

Um ponto importantíssimo, a ser apropriado pelos que usam dos benefícios das áreas naturais para turismo ecológico é respeitar capacidade de carga de cada lugar. No Parque do Jalapão, esse processo demorou a ser compreendido e internalizado pela comunidade local e prestadores de serviços. Se queremos nossos atrativos sempre vivos, é necessário o entendimento que a limitação não é chatice e sim respeito ao que cada local consegue suportar, sobreviver e ser seguro.

O potencial hidrográfico na Cachoeira da Velha no Rio Novo

Imaginem se não tivesse procedimentos do Parque Estadual do Jalapão e das comunidades tradicionais, para um público anual de aproximadamente 40.000 visitantes, como seriam essas vivências para os visitantes em suas cachoeiras, fervedouros, contemplação da paisagem, trilhas, dunas? Não são somente números, é primordial que essas pessoas tenham uma experiência única, mágica e inesquecível.

E essa experiência atrai diversos segmentos, filmes, novelas, segmentos esportivos, empresas e outros que fazem uso de imagem, tema esse regulamentado pelo órgão gestor e que considero um avanço tanto na organização dos usuários como no apoio a gestão. No caso do Parque Estadual do Jalapão, essa é uma prática efetiva, é referência em sua implementação, consequentemente contribuindo para a divulgação.

Alguns atributos são surpreendentes quando incorporados no turismo ecológico, e no Parque Estadual do Jalapão, ocorre de forma natural, a exemplo, observação de animais silvestres. Entretanto é super necessário trabalhar os impactos do turismo sobre os mesmos. Infelizmente hábitos como a manipulação dos animais, tráfico e atropelamento existem. Enquanto gestor, a busca de apoio seja da fiscalização e ou educação ambiental é contínua e muitas vezes frustrantes. Quem visita um Parque, precisa se sentir corresponsável pela sua sustentabilidade.

Jailma entre as quilombolas do Quilombo do Mumbuca: sobrevivência sustentável na produção do artesanato do capim dourado

Outra questão que é preocupante num Parque é o combate de práticas irresponsáveis do uso do fogo. Em se tratando do turismo ecológico essa prática é assustadora, pois além de colocar todos em risco, ameaça à biodiversidade, provoca erosões, escassez de água, agrava doenças respiratórias, compromete a beleza da paisagem e tira a vontade de visitar o local. No caso do cerrado, uma boa prática utilizada é o Manejo Integrado do Fogo, que trabalha a prevenção, controle, educação ambiental, alinhado com o calendário de produção, proteção a fauna, manejo da paisagem.

Quando falamos de boas práticas, o Turismo de Base Comunitária, ainda é humilde na região do Jalapão, as comunidades desenvolvem, mas precisam ser melhor estruturadas e incorporadas.

O momento em que vivemos, com o COVID 19, traz muitas reflexões para a humanidade. É fato que as áreas naturais, são um lugar que muitos irão procurar, por que ser mais seguro, agradável e saudável. Entretanto muitos desafios são colocados para que o turismo ecológico nos parques seja realmente sustentável, atenda as nossas expectativas e seja prazeroso. Temos que rever nossos conceitos, nossos hábitos cotidianos e principalmente compreender  a sua magnitude para o desenvolvimento econômico e refletir sobre as consequências das nossas ações sobre os recursos naturais. Protocolos serão revistos para que muitas ações não acarretem mais desequilíbrio, prejudicando uma cadeia produtiva.

Brigadistas do Parque Estadual do Jalapão – Foto divulgação

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