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Outros saberes históricos deixaram suas marcas no município berço do Vale do Aço, além da religiosidade e da gastronomia

Bairro Antônio Dias, ao centro, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto – Foto: Elvira Nascimento

Em 1698, o bandeirante natural de Taubaté, Antônio Dias de Oliveira, revirando os aluviões à margem de um córrego, na busca de ouro, encontrou inúmeras pepitas, porém de um metal escuro, totalmente diferente do metal amarelo e brilhante que procurava. Ao processar aquele metal escuro, descobriu-se que tratava do cobiçado ouro. Naquele lugar, a natureza do subsolo formava uma película fina de oxido de ferro que cobria a amarela pepita.

Surge então a definição de Ouro Preto, que veio a denominar o então Arraial de Vila Rica em 1823.

Antônio Dias e Pilar de Ouro Preto, marcam o nascimento do então Arraial, onde inúmeras outras atividades mineradoras surgiram nas Serras de Ouro Preto, como: Lavras do Coronel Veloso, do Morro da Queimada, Saragoça, do Morro São João, Tassara e do Moreira, Sumaré e Taquaral.

Inicia-se ali, o mais rico ciclo da história, o Ciclo do Ouro.

O bandeirante

Casa atribuida ao bandeirante Antônio Dias de Oliveira, no povoado Antônio Dias Abaixo

Reconhecido como descobridor de ouro, em 1706, o bandeirante Antônio Dias de Oliveira abandona o primeiro sítio de assentamento denominado Antônio Dias, e embrenha-se em novas expedições, porém, na direção do Rio Piracicaba.

Cerca de 180 quilômetros abaixo, o bandeirante monta acampamento à margem do rio e o batiza de “Antônio Dias Abaixo” em referência ao núcleo de mineração deixado em Vila Rica, identificado com seu nome.

Deste remoto acampamento surge o atual município de Antônio Dias, e o local do acampamento passa a se chamar Arraial Velho.

O Rio Piracicaba torna-se a artéria onde se corre o sangue dos povoamentos irmãos, sendo Antônio Dias, atual bairro central de Ouro Preto e Antônio Dias Abaixo, atual cidade de Antônio Dias.

Em 1736 com 90 anos de idade, Antônio Dias de Oliveira morre, sendo  sepultado no adro da igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré, no Centro do então povoado de Antônio Dias Abaixo. Segundo consta, sua lápide em pedra, com a inscrição de seu nome, foi literalmente triturada e misturada ao cimento na grande reforma da atual Matriz.

Junto ao bandeirante, seus escravos e seus saberes edificaram o arraial, que em 1832, eleva-se à Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias Abaixo.

Em 1911, a Freguesia é elevada à Distrito de Itabira e a Vila em 1912 com o nome de Antônio Dias Abaixo. Em 1918, o nome é simplificado para Antônio Dias, que emancipa-se em 1925.

Fundadas pelo bandeirante, as duas cidades, Ouro Preto e Antônio Dias até final do século XIX, quando Ouro Preto ainda abrigava a capital do estado de Minas Gerais, as relações políticas se mantinham ativas por seus interlocutores legislativos, sob a luz de suas raízes.

O Vale do Aço: a desventura de Antônio Dias

Vista panorâmica de Antônio Dias no início do século

No século XX, com a instalação das indústrias siderúrgicas no município e a emancipação de seus distritos industriais, Antônio Dias passou pelo esvaziamento demográfico, sendo relegado a pouca expressão política, relegando também suas raízes coloniais do contexto de políticas públicas na direção de um desenvolvimento socio cultural duradouro.

Os vestígios do passado fixados na religiosidade e na gastronomia permaneceram vivos até os dias atuais, porém os laços se desataram.

Pedra-sabão – Sítio 1

O historiador Mário de Carvalho Neto, na ruína arqueológica, na região denominada Caxambú, em Antônio Dias

 

No meio da mata, à margem de um córrego, os moldes de panelas recortados no bloco de pedra-sabão, estão cobertos pelo limo

Sítio 2

Em outro sítio arqueológico, o bloco de pedra-sabão recortado com moldes de panelas, situa-se na região denominada Arraial Velho, em Antônio Dias

 

Em outro ângulo, o bloco de pedra-sabão recortado com moldes de panelas

Outros vestígios do período do bandeirantismo, descobertos posteriormente, os  valiosos sítios arqueológicos encontrados no município, como as ruinas de extração de pedra-sabão, para a fabricação artesanal da panela de pedra e outros itens como pesos de balanças, também interconectam a história primitiva das duas cidades.

Os saberes da exploração da pedra-sabão e sua transformação em artefatos domésticos, objetos decorativos e religiosos, têm suas origens na região de Santa Rita de Ouro Preto e Ouro Branco, locais de incidência deste mineral. Certamente que estes saberes trazidos pelos intrépidos desbravadores, percorreram as trilhas das serras ouro-pretana, vindo desembocar nos rincões de seu povoado irmão Antônio Dias Abaixo.

Não se sabe ao certo quando iniciou e quanto tempo durou a mineração da pedra-sabão e sua transformação em panelas no município colonial, mas, pode-se afirmar que a atividade se fixou nos primórdios.

“A pedra-sabão é um esteatito, uma rocha metamórfica de baixa dureza, composta essencialmente por talco, e que pode agregar ainda magnesita, tremolita e quartzo, em geral de tonalidade clara. A pedra-sabão é derivada principalmente, de rochas ígneas ultramáficas, geralmente serpentinizadas. São untuosas ao tato proporcionando uma sensação oleosa ou saponácea, de onde deriva o nome de pedra-sabão. Uma de suas principais características é a sua capacidade refratária, sendo por isso utilizada também na fabricação de fornos e lareiras.”

Uma porta para os tesouros do passado

Após o restauro do antigo Casarão, o Centro Cultural Manoel Barros deverá ser também um espaço de pesquiza histórica e resgate de vínculos com sua cidade irmã, Ouro Preto

Ao adentrar pelo século XX, Antônio Dias perdia progressivamente sua forma e sua identidade, dissipando a conexão com suas raízes. Desvalida de sua tradição arquitetônica, as novas edificações erguiam-se deformadas, em nome de um tal progresso e de um tal novo.

Antes tarde do que nunca, novas políticas públicas sublinham a grandeza histórica do município com saberes transformadores de ganhos coletivos.

O valioso patrimônio histórico e cultural, tombado pelo município, o Casarão, restaurado, abre sua porta aos herdeiros da história, porta essa, de onde adentrou de uma longa jornada, iniciada nas altaneiras terras auríferas os destemidos aventureiros bandeirantes. Dessa porta, se reconstrói a história e reconecta Antônio Dias com sua cidade irmã, Ouro Preto, onde se guarda os tesouros que poderão novamente cintilar na vida dos antoniodienses e resgatar a grandeza da sua história, perdida pelos algozes tempos modernos.

Seguir para o futuro sem levar junto seu passado pode chegar a algum lugar, mas certamente este lugar não será para todos.

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