Importante Unidade de Conservação é Reserva da Biosfera, Sítio Ramsar e Hotspot
O Parque Estadual do Rio Doce – PERD é uma importante unidade de conservação da natureza, pertencente ao governo do estado de Minas Gerais. Localizado na região Sudeste do Brasil, no Vale do Rio Doce, entre os municípios de Timóteo, Marliéria e Dionísio, a UC, criada em 1944, configura-se como uma das principais áreas de proteção à biodiversidade do estado, abrigando a maior área contínua de Mata Atlântica preservada, sendo inclusive por vezes, reconhecida como a “Amazônia mineira”
O PERD é um dos três maiores sistemas de lagos que ocorrem no Brasil, juntamente com o Pantanal Matogrossense e o sistema Amazônico. O sistema é denominado depressão interplanáltica do rio Doce, sendo constituído por cerca de 40 lagos, localizados em uma área de 35.000 ha e a 300m de altitude. Os lagos estão localizados em uma floresta tropical úmida, não apresentando conexão com o sistema fluvial do Rio Doce. A pluviosidade média anual no PERD é de 1.480,3mm, temperatura média anual de 21,9°C e período de déficit hídrico de maio a setembro.
História
Antes da chegada dos colonizadores portugueses, a região do parque era ocupada pelos Borun, nativos que eram chamados de Botocudos pelos europeus.
Na década de 1940, o arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, durante sua visita ao município de Marliéria, fica encantado com as belezas naturais avistadas e sua riqueza ambiental juntamente com as dezenas de lagoas da região. Na eminência de se transformar em matéria prima para o processo de industrialização em surgimento na região, o arcebispo decide agir em defesa da proteção e preservação da floresta local. Dom Helvécio, então, juntamente com algumas lideranças da região, inicia um longo trabalho em busca da criação de uma reserva florestal e postura para que aquele patrimônio ambiental não se perdesse.
Durante anos, na defesa da fauna e da flora, a sugestão do bispo é acatada pelo então governador de Minas Gerais, Benedito Valadares Ribeiro. Em 14 de julho de 1944, a Unidade de Conservação era oficializada pelo decreto-lei n° 1.119. Mas nesta primeira fase do projeto, havia muito trabalho a se fazer. Era comum o uso sem controle das terras, por isso, a fauna sofria as consequências da pesca e caça sem restrição.
Com a criação do Instituto Estadual de Florestas, a Secretaria de Estado da Agricultura transferiu sua administração para o novo órgão. Em 1967, a unidade foi atingida por um incêndio de grandes proporções que consumiu 9 mil hectares de florestas, o equivalente a um terço da reserva, e deixou 12 mortos no dia 18 de outubro daquele ano, sendo todos da equipe de combate.
Apenas na década de 1970 é que uma infra-estrutura para turismo e pesquisas da biodiversidade foi montada para que houvesse segurança para os visitantes e para a floresta. Após a reforma ocorrida entre 1986 e 1993, o parque foi reaberto.
Banhado pelo Rio Doce ao Leste, e margeada pela LMG-760 ao Oeste, a UC é composta por quarenta lagoas naturais, dentre as quais destaca-se a lagoa Dom Helvécio, com 6,7 Km2 e profundidade de até 32,5 metros, o parque proporciona um espetáculo de rara beleza. As lagoas abrigam uma grande diversidade de peixes, que servem de importante instrumento para estudos e pesquisas da fauna aquática nativa, com espécies tais como bagre, cará, lambari, cumbaca, manjuba, piabinha, traíra, tucunaré, dentre outras.
Com o objetivo de aproveitar a riqueza da flora, de forma sustentável, o parque possui um herbário, que possibilita a identificação de espécies principalmente através da análise de suas características morfológicas, constituindo a base de pesquisas taxonômicas.
Flora
Árvores como o jequitibá, garapa, vinhático e a sapucaia, é comum serem encontradas, especialmente nas diversas trilhas abertas para a interação do público com a natureza. Em alguns pontos aparecem espécies também raros como o jacarandá-da-baía e a canela sassafrás. Essas árvores centenárias e suas madeiras nobres de grande porte compõem o cenário de um dos poucos remanescentes de Mata Atlântica no Brasil. Na região do parque, podem ser encontradas 10 mil exemplares de flora, reforçando a diversidade de espécies presente.
Fauna
No Parque Estadual do Rio Doce, é possível encontrar espécies da avifauna como o Surucuá-grande-de-barriga-amarela, besourinho, papagaio-moleiro, jacu-açu, saíra-galega, anumará, entre outros. Animais conhecidos da fauna brasileira também são frequentes no parque. A capivara, a anta, o macaco-prego-preto, o sauá, a paca e cutia, bem como espécies ameaçadas de extinção como a onça parda e pintada, o macuco e o muriqui-do-norte ou mono-carvoeiro, o maior macaco das Américas.
O PERD abriga cinco relevantes projetos científicos: o Mono-Carvoeiro, Tatu Canastra, Harpia, Onça Pintada e Bicudo.
Guia Aves do PERD e Entorno
O gerente do PERD, Vinícius de Assis Moreira, falou com entusiasmo sobre a descoberta recentemente do raríssimo cachorro-do-mato-vinagre, no Perd. Segundo ele, é o último predador que não havia sido detectado na Unidade, considerado extinto na Mata Atlântica. Este foi detectado em uma câmera fotográfica dotada de sensor de aproximação e infra-vermelho.
No âmbito das pesquisas científicas, o gerente da UC, Vinícius Moreira, assegurou que há mais de 40 protocolos de pesquisas, configurando o Perd como um dos remanescentes de Mata Atlântica mais pesquisados do Brasil. Para ele, o fato do Parque Estadual ser Reserva da Biosfera, Sítio Ramsar e Hotspot, o torna uma Unidade de Conservação de relevância mundial.
Sobre as ações no contexto da gestão do Perd, foi realizado o Plano de Manejo de todo o sistema lacustre e florestal; foi confeccionado o Plano de Pesquisa; Plano de Comunicação e Marketing; elaboração de Manuais e Sistema de Vídeo Vigilância; distribuição de materiais e equipamentos de prevenção a incêndios florestais; investimentos na qualificação do nível de gestão e conservação do Parque, reiterando que a Unidade é um exemplo de gestão para outras unidades de conservação no estado e no país. Segundo o gerente do Perd, a missão do Parque Estadual, é ser referência na gestão de Unidades de Conservação da Natureza.
Outro reflexo da gestão, que conta com parcerias privadas, é o aumento progressivo de visitantes no Parque, que poderá chegar a 100 mil visitantes nos próximos anos, destacando o alto nível da equipe de colaboradores do Perd e os investimentos futuros.
80 anos
Em julho de 2024, o Parque Estadual do Rio Doce celebrou seus 80 anos de criação. Em pronunciamento de Dr. José Carlos Carvalho, um dos idealizadores e fundadores do Ibama, e também secretário executivo e ministro do Meio Ambiente, o “Parque Estadual do Rio Doce é uma ilha cercada por degradações”.
O ambientalista lamentou a dificuldade de se criar nos dias atuais, unidades de conservação, salientando que nas décadas passadas, quando o meio ambiente não era tão agredido como nos dias atuais, se criaram as inúmeras unidades de conservações do país. Numa analogia do passado com o presente, José Carlos considera que os políticos de ontem parecem ser mais modernos que os políticos de hoje.
Romaria Ecológica
Anualmente, no aniversário do Parque Estadual do Rio Doce acontece a Romaria Ecológica, quando centenas de cavaleiros dirigem-se à UC, onde é celebrada uma missa em honra a Nossa Senhora da Saúde. O evento que une fé e responsabilidade ambiental de maneira única, os fiéis e amantes da natureza se reúnem e renovam o compromisso com a conservação do meio ambiente.