Pioneira do Vale do Aço tem uma rica história de transformação social, cultural e econômica
Antes mesmo dos desbravadores pioneiros, o alferes Francisco de Paula e Silva ou Chico Santa Maria, o canoeiro Francisco Romão e outros, colocarem seus pés nas terras baixas do território da depressão do Vale do Rio Doce, uma dinâmica atividade sócio econômica e religiosa já acontecia nas terras altas que contornavam o Baixo Piracicaba. Francisco de Paula adquire suas três sesmarias, Alegre, Limoeiro e Timóteo no início do século XIX e Francisco Romão navegava entre os rios Piracicaba, Doce e Santo Antônio levando e trazendo pessoas e mercadorias.

Pertencente a Vila de Antônio Dias, o Baixo Piracicaba abrigava os temidos índios botocudos – Foto: Acervo Particular
Antônio Dias, Marliéria, Jaguaraçu, Ferros, Mesquita e Joanésia, formaram os primeiros povoados nos limites da cadeia de montanha de Minas Gerais com as terras planas e baixas do Vale do Rio Doce, cuja atividade agropastoril os conectavam com a matriz, isto é, os centros econômicos da província. Segundo relatos de descendentes de tropeiros da Serra dos Cocais, cerca de 200 tropas de burros ou mulas com cereais e mercadorias, cruzavam diariamente a estrada aberta por Guido Thomaz Marliére em 1825, sobre as montanhas a qual ele chamava de Alto dos Cocais.
Estas Freguesias, depois distritos e hoje municípios do Colar Metropolitano do Vale do Aço, olhavam para baixo, para o impenetrável vazio verde, inóspito e feroz, sentiam o calafrio por avizinhar-se do habitat dos “gentios” e bravios índios botocudos.
Antes da modesta estrada de ferro cortar a mata fechada com destino as jazidas de minério de ferro, os primeiros donos da terra, da etnia borun, já haviam sido aniquilados pela Lei da Terra. Com eles, os topônimos Nak, que designava terra, Tarú – céu, Munhán – água, e Watú – rio Doce, também desaparecem.
Lei da Terra

Com a decretação da Lei da Terra, ou Lei 601, o Vale do Rio Doce é ocupado por colonos – Foto: Acervo Cia. Belgo Mineira
Neste período, durante o século XIX, a economia mundial passava por transformações pela qual a economia conduzida pelo comércio passou a ceder espaço para o capitalismo industrial. O avanço da economia capitalista tinha um caráter cada vez mais mercantil, onde a terra deveria ter um uso integrado à economia, tendo seu potencial produtivo explorado ao máximo. A abolição da escravatura no país, passa a ser capitaneado pelo capitalismo, que teria uma vasta mão-de-obra introduzida no rol de consumidores de manufaturados. As férteis terras do Vale do Rio Doce passam a ser cobiçada e ocupada. Em 1850, a chamada Lei 601 ou Lei de Terras, apresentou novos critérios com relação aos direitos e deveres dos proprietários de terra. A terra é então incorporada à emergente economia agrária do Rio Doce.
Tropeiros

Descendo o Alto dos Cocais, os tropeiros e agricultores se estabelecem aos pés da serra, fundando o então Santo Antônio do Piracicaba (Melo Viana) – Foto: Acervo Particular
No trânsito de tropeiros entre a Bacia do Rio Santo Antônio e o Médio Piracicaba pelo Alto dos Cocais, alguns laboriosos condutores de tropas, também conhecidos como arrieiros, descem a serra e se estabelecem na localidade que recebeu o nome de Santo Antônio do Piracicaba. Ali, aos pés da serra, local de muita água, uma planície estendia-se até o Rio Piracicaba.
Juntamente com tropeiros, agricultores de Ferros, como João Teixeira Benevides, adquire uma porção de terra de Leonardo Pereira, desenvolvendo então plantios de roças de subsistência.
Estrada de Ferro
O avanço da Estrada de Ferro Vitória à Minas na década de 1920 sobre as terras planas do Baixo Piracicaba, as primeiras terras dotadas de uma topografia favorável à instalação de grandes empreendimentos industriais, muda a história do Baixo Piracicaba. A planície, a mais próxima dos colossais depósitos naturais de minério de ferro reescrevia seu destino. Era ali, que o minério de ferro e o alto-forno se encontrariam e forjariam uma nova era de desenvolvimento de base siderúrgica.

Na década de 1920, os trilhos da EFVM rompem a mata e direcionam para as margens do rio Piracicaba – Foto: Acervo Particular
Em 1922, reiniciaram-se os trabalhos de construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas – EFVM, paralisada em 1914 (época da Primeira Guerra Mundial), na localidade de Cachoeira Escura. No dia 7 de julho de 1924, é inaugurada a estação na localidade de Barra do Calado, confluência do ribeirão Caladão com o rio Piracicaba. Na estação é instalada uma placa com o nome Raul Soares, em homenagem ao então governador de Minas Gerais. Tempos depois, a estação recebe outra placa, com o nome Calado.
Distrito de Melo Viana
Neste contexto, o povoado de Santo Antônio do Piracicaba é elevado a distrito do município de Antônio Dias, com o nome de Melo Viana, em 1923, um ano antes da inauguração da estação ferroviária do Calado. Distante da estrada de ferro, a população de Melo Viana percorria a pé ou a cavalo até embarcar nos trens de passageiros diários. A conhecida baixada do Melo Viana, que separava o trem do povoado, era um lugar pantanoso, encharcado pelas águas que brotavam nas grotas da antiga fazenda de Alberto Giovanini.

Santo Antônio do Piracicaba, elevado a distrito de Melo Viana em setembro de 1923 – Foto: Acervo Particular
No Calado, nos arredores da estação, faiscadores, trabalhadores ferroviários, comerciantes e forasteiros erguem seus barracos e armazéns, surgindo então o povoado do Calado. Na foz do ribeirão Caladão, cuja denominação fazia referência à sua capacidade de navegação, isto é, comportava embarcações de alto calado, um porto foi construído, o Porto-de-Canoas. Dali, mercadorias trazidas por tropeiros eram embarcadas em longas canoas, que seguiam rio acima, rio abaixo, ou apenas atravessava para o outro lago do rio, no porto da Fazenda Alegre. Ainda hoje, o local do antigo porto de canoas é utilizado para embarque de pessoas em pequenos botes.
1ª Igreja
Os mesmos trabalhadores que construíram a estrada de ferro ergueram, em 1929, a primeira igreja da cidade, dedicando-a a São Sebastião, consolidando-o como santo padroeiro do lugar.

A primeira igreja erguida no ainda Calado, em 1929 – Foto: Acervo Museu Histórico de Coronel Fabriciano
Em 1933, o Cartório de Melo Viana é então transferido para o Calado, alterando-se então a sede do distrito para a região do atual Centro da cidade
Primeiro surto econômico
Em 1936, a Cia. Belgo Mineira instala um escritório na esquina da rua Pedro Nolasco com José Cornélio para administrar a exploração de madeira e carvão na região. O empreendimento extrativista atrai outra leva de trabalhadores, divididos em serviços administrativos, serviços médicos, oficinas mecânicas e carvoeiros. O povoado do Calado progredia com novas casas em alvenaria, novas ruas, enquanto a mata desaparecia, sendo calcinada nos fornos e transformada em carvão para a usina de João Monlevade.

Toda as terras altas e baixas da região forneceram carvão vegetal para a siderúrgica de João Monlevade – Foto: Acervo Particular
Em 30 de março de 1938, por decreto lei estadual 148, de 17 de dezembro de 1938, o distrito de Melo Viana passa a se chamar Coronel Fabriciano, homenagem a Coronel Fabriciano Felisberto de Brito, comerciante antoniodiense, a pedido de seu filho, o Deputado Eusébio Tomáz de Carvalho Brito. Como sede do cartório e a mudança do nome da estação ferroviária para Coronel Fabriciano, o antigo Calado passa a ser a referência política local e a antiga sede do distrito torna-se apenas o bairro Melo Viana.
Em 1944, no antigo povoado de São Sebastião do Alegre, desmembrado de São Domingos do Prata e elevado a distrito de Antônio Dias em 31 de dezembro de 1940 com o nome Timóteo, é instalada a primeira grande usina na região, a Cia. Aços Especiais de Itabira – Acesita.
Serraria Santa Helena

Na década de 1940, a Serraria Santa Helena é inaugurada no centro do Calado – Foto: Acervo Particular
Na mesma década, outro grande empreendimento inicia-se na região, este, no centro de Coronel Fabriciano, a Serraria Santa Helena, uma das maiores empresas madeireira do Vale do Rio Doce. Na serraria, beneficiou madeira para a construção residencial e de pontes para toda a região do Médio Rio Doce, bem como para exportação, especialmente para o país europeu, a Bélgica, país de origem da siderúrgica Belgo Mineira. Na década de 1960, um grave acidente ferroviário provocou o incêndio da serraria, vindo a encerrar suas atividades.
Em 15 de agosto de 1948, o Curato de São Sebastião é elevado à categoria de Paróquia, primeira instituição religiosa do Vale do Aço, data também da chegada dos primeiros missionários redentoristas.
Emancipação
Em 27 de dezembro de 1948, o governador Milton Campos assina a Lei nº 336, criando o município de Coronel Fabriciano, que é instalado em 1º janeiro de 1949.

Sobre a loja Casa São Geraldo, pertencente a Rubem Siqueira Maia, a prefeitura foi instalada em janeiro de 1949 – Foto: Acervo Museu Histórico de Coronel Fabriciano.
A sessão foi presidida pelo juiz de paz José Anastácio Franco. Assumiu como intendente o Dr. Antônio Gonçalves Gravatá, com o distinto objetivo de organizar a administração municipal e entregá-lo ao prefeito oficial, Rubem Siqueira Maia, eleito pela população.

O primeiro prefeito de Coronel Fabriciano recebe o ilustre visitante Louis Ensch (6º) e outros – Foto: Museu Histórico de Coronel Fabriciano
Desde então, o aniversário de Fabriciano é comemorado no dia 20 de janeiro.
Com a emancipação, os povoados de Timóteo e Ipatinga incorporam ao território do novo município. Anos depois, em 1953, Ipatinga é elevado a distrito de Coronel Fabriciano.
Educação e Cultura
Na década de 1940, o primeiro grupo de teatro, o Clube Dramático Cordélia Ferreira é criado por funcionários do escritório da CAF – Belgo Mineira e comerciantes. Na mesma década, o então superintendente da Belgo Mineira na região, Joaquim Gomes da Silveira Neto, cria a Corporação Musical Nossa Senhora Auxiliadora, tombada como patrimônio cultural do município.

o 1º grupo de teatro da região, Clube Dramático Cordélia Ferreira, formado por funcionário da Belgo Mineira e comerciantes locais – Foto: Gilson Lana
Em 1950, é instalado o Colégio Angélica, instituição mantida pelas Irmãs Carmelitas da Divina Providência, pioneiras do Vale do Aço na Educação Pré-escolar, 5ª a 8ª séries e ensino médio. Até então, apenas o ensino primário existia de forma regular, iniciado em 1928 em Melo Viana por uma escola estadual.
Economia crescente
O fluxo de trabalhadores atraídos pela usina Acesita em Timóteo, do outro lado do rio, impulsiona significativamente a economia mercantil de Coronel Fabriciano, onde diversas lojas são abertas na cidade.

Com a instalação da Acesita, a economia fabricianense é novamente impulsionada – Foto: Acervo Particular
As ruas Pedro Nolasco e Silvino Pereira, conhecidas como as ruas de baixo, tornam-se uma forte praça comercial, atraindo consumidores de diversas regiões que chegavam diariamente nos trens da Vitória a Minas. Em 1958, é criada a Associação Comercial de Coronel Fabriciano, a Acicel e em 1959, em frente à estação ferroviária, é inaugurada a primeira agência bancária na cidade, o Banco da Lavoura, sendo posteriormente o Banco Real e hoje Santander.
A Comarca de Coronel Fabriciano é instalada em 1955.
Usiminas
Em 1958, na localidade de córrego Nossa Senhora, no povoado de Ipatinga. inicia-se os primeiros serviços de implantação da usina siderúrgica Usiminas, inaugurada em 1962.

Em outubro de 1962, a Usiminas é inaugurada – Foto: Acervo Usiminas
A construção da Usiminas favorece um novo impulso na economia fabricianense, fortalecendo ainda mais o comércio, que direciona para a avenida Magalhães Pinto.
No mesmo ano da inauguração da Usiminas, em 5 de julho de 1962, Melo Viana é novamente distritalizado, porém com o nome Senador Melo Viana, mantendo-se como distrito até os dias atuais.
Unidade Administrativa da EFVM

A EFVM adquire o imóvel da Belgo Mineira na rua Pedro Nolasco e instala sua unidade administrativa – Foto: Acervo Particular
Devido a relevância da região em se tornar um centro industrial de importância nacional, no início da década de 1960, a EFVM instala em Coronel Fabriciano sua terceira unidade administrativa, sendo Vitória a primeira e Governador Valadares a segunda. Com o nome de Terceira Residência da Via Permanente, o então mestre de Linha Mário Carvalho, assume a gerência da unidade, responsável pelo trecho ferroviário de Naque a Itabira.
Em 1964, emanciparam-se os municípios de Timóteo e Ipatinga, incorporando em seus territórios as indústrias do aço.
Na mesma década, é inaugurada a Universidade do Trabalho, atual Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste. A instituição de ensino teve sua origem no ano de 1964 quando o padre holandês José Maria De Man, membro da congregação religiosa Missionários do Trabalho, iniciou, na região do Vale do Aço, um trabalho educacional de promoção humana, sustentado por princípios e valores cristãos. Um grande número de estudantes e professores de todo o estado direcionaram-se para a cidade.
Vida noturna
Nas décadas de 1970 a 1990, Coronel Fabriciano vivencia uma próspera e radiante atividade econômica, impulsionada por uma efervescente vida noturna.

Por duas décadas, as noites fabricianenses foram pontos de encontro de jovens de toda a região – Foto: Acervo Particular
A boemia fabricianense que durou mais de duas décadas, ganha destaque em todo o Leste mineiro, favorecendo a abertura de diversos bares, restaurantes e boates. Famosa por ser ordeira e pacífica, a vida noturna fabricianense atraia jovens de todo o Leste mineiro, vindo a competir com as noites de Juiz de Fora e Governador Valadares. A Churrascaria Cabana, as boates Saint Tropez, Cosmos e Underground, os bares Chicken in e Barril e o restaurante Viegas, deixaram uma legião de frequentadores contagiados pela saudade.

Os drinks nomeados com as famosas casas noturnas da época, pelo Metropolitano Deck Bar, remete à saudosa boemia fabricianense
Celebrando seus 76 anos, Coronel Fabriciano com mais de 110 mil habitantes ocupa lugar de destaque na Região Metropolitana do Vale do Aço, sendo a segunda mais populosa. Com sua principal vocação econômica o comércio, Coronel Fabriciano acredita também em seu potencial turístico, reforçado por atrativos ecoturísticos em sua área rural, com clima característico de montanha e na área urbana, com seus patrimônios culturais materiais e imateriais preservados.

Com mais de 110 mil habitantes, Coronel Fabriciano Celebra 76 anos com otimismo para os próximos anos – Foto: Elvira Nascimento