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A história do festival, além de registrar o apogeu da criação musical da região, revela também que se a história não for preservada, ela desaparece.

Quase que numa premunição da história, o importante acervo histórico de um dos mais importantes movimentos culturais da região, realizado na cidade de Timóteo pelo Clube Alfa, nas décadas de 1980 e 1990, o Festival de Música Uirapuru, com repercussão em nível nacional, por pouco não sucumbe em meio à demolição nas derradeiras horas do Clube. Além do festival, o clube promovia também famosos torneios esportivos estaduais e nacionais, tornando-se referência esportiva.

Clube Alfa em plena atividade em 2018 – Foto: arquivo Diário do Aço

Atravessando uma forte crise financeira, devido a vertiginosa queda no número de associados e gestões incompatíveis, o Clube Alfa em 2019 encerra suas atividades e coloca à venda o seu patrimônio físico, que compreendia sua sede localizada no bairro Horto Malaquias, e uma área na orla da Lagoa Bonita, no distrito de Revés do Belém, em Bom Jesus do Galho, onde funcionava também um clube estruturado para camping e pesca esportiva.

Ao iniciar a intervenção na sede, para implantar um empreendimento imobiliário no local, um dos empreendedores, o empresário Jomar Souza Andrade, percebeu que no almoxarifado do antigo escritório havia um grande volume de objetos abandonados, que poderia conter um possível acervo histórico da instituição. Sensibilizado, o empresário telefonou para o historiador e jornalista Mário de Carvalho Neto, editor da revista Caminhos Gerais, solicitando sua presença ao local, para uma análise sobre aquele volumoso descarte.

 

Diversas fitas de vídeo e fotografias dos festivais encontravam-se em armários de aço

Cartazes emoldurados, porém com os vidros quebrados também foram encontrados

Troféus do festival e esportivos encontravam-se espalhados no local

Entre os inúmeros objetos deixados ali, por um longo período de tempo, já bastante empoeirado, Mário encontrou álbuns fotográficos; fitas de vídeos e fotografias dos festivais Uirapuru; cartazes, inclusive do primeiro e do último evento; disco em vinil gravado com algumas canções do festival; relatórios, com clipes de jornais e revistas; inúmeros troféus dos festivais e troféus esportivos; coleção de jornais antigos publicados pelo clube, além de muito papel. Ao recolher os artefatos referentes ao Festival Uirapuru e às atividades esportivas ainda preservados, Mário comunicou ao empresário que avaliaria o conteúdo histórico e daria a melhor destinação possível aos objetos recuperados.

Ainda na recuperação do que seria um acervo histórico do Festival Uirapuru, o editor da Caminhos Gerais telefonou para seu amigo, o jornalista Márcio de Paula Silva, editor do jornal timotense, O Informante, e para o compositor, José Maria Rosa, que participou de todos os festivais, sendo um dos maiores vencedores, para a identificação dos itens quanto a sua cronologia.

O compositor, José Maria Rosa, desolado, encontra nos escombros, um disco em vinil e uma fita de vídeo do 3º Festival Uirapuru

Com parte do acervo fora do risco de se transformar em entulho junto a demolição do imóvel, Mário, Márcio e José Maria Rosa reuniram-se com o subsecretário de Cultura, Esporte e Lazer da prefeitura de Timóteo, Cláudio Gualbeto e o vereador Vinícius Bim, onde o servidor demonstrou total interesse em receber o acervo e empreender os devidos cuidados visando a salvaguarda dos objetos recuperados.

O Festival

A talentosa Elke Maravilha apresentou todas as edições do Uirapuru

O Festival Uirapuru, apresentado pela talentosa Elke Maravilha, que contava em suas aberturas ou fechamentos com grandes estrelas da música brasileira, como Zé Ramalho, Almir Sater, Moraes Moreira, Gonzagão, Jair Rodrigues, A Cor do Som, entre outros, além de encorajar inúmeros compositores ao mercado fonográfico, proporcionava um vigorosa injeção na economia, principalmente dos setores do entretenimento, da hospedagem e da cultura.

A abertura contava com estrelas da música nacional, como Moraes Moreira

 

Zé Ramalho também abriu o evento

Nome inspirado no pássaro do Amazonas, o uirapuru, que segundo a lenda, canta apenas uma vez por ano, o festival era também realizado uma vez por ano no gramado do extinto Clube. Idealizado pelo padre Nazareno, o festival tomou proporções inusitadas, atraindo concorrentes inclusive, de outros estados. De acordo com o jornalista do Diário do Aço na época, José Célio de Sousa, que cobria os eventos, “o Uirapuru pode ser considerado um do mais importantes movimentos culturais da história de Timóteo ou mesmo do Leste mineiro. Sua história é de grande relevância para a população e para a Aperam, Acesita na época, que era a maior patrocinadora do festival”

Acervo recuperado

Diante dos diversos itens recuperados, o músico José Maria Rosa, um dos compositores com maior premiação no Uirapuru, inclusive foi júri em 1992, sentiu desolado em ver a história do festival quase desaparecendo em meio a entulho. José Maria se orgulha em dizer que levou para casa 7 troféus entre 1º, 2º e 3º lugar. O compositor, que atualmente mora no bairro Lavrinha (Jaguaraçu), enfatizou a importância do evento, que projetou a cidade de Timóteo em nível nacional. Segundo José Maria, para realizar o Uirapuri, recurso financeiro não era problema, havia patrocinadores fortes, como a Acesita, Coca Cola, Cerveja Bhrama e outros, que contavam com o retorno garantido. O público prestigiava o festival com muita euforia, disse.

O compositor disse ainda que foi uma surpresa para todos, o festival encerrar suas atividades no auge, de uma hora para outra. Ele acredita que o esvaziamento do patrocínio comprometeu o orçamento do festival, levando-o ao encerramento.

Na oportunidade, o compositor recordou de vários músicos que o festival projetou nacionalmente, dentre eles, Rubinho do Bandolim. Apesar da tentativa de reescrever o festival em 1992, onde ele participou como júri e da importância para o turismo e para o empreendedorismo cultural, José Maria não crê nas possibilidades de retorno do festival. Para ele, não há vontade política e nem interesse para tal. “O Uirapuru não passará de uma maravilhosa lembrança, que por pouco, sua história não se perdia na poeira.

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