Tal fato ocorreu em 1967, quando o herdeiro do trono japonês visitou Ipatinga e se encantou com a mobília fabricada por Wantuil Cariolando
No ano em que a Usiminas inaugura o Centro de Memória Usiminas, no prédio do antigo Grande Hotel, no bairro Castelo, em Ipatinga, a revista Caminhos Gerais reedita uma relevante reportagem publicada em 2009, cujo contexto tem uma ligação direta com a histórica visita do mais ilustres hóspede do Grande Hotel, o então príncipe do Japão, Akihito e sua esposa, a princesa Michiko, em maio de 1967.
Akihito, filho do então imperador Hirohito, visitou a Usiminas cinco anos após a inauguração da empresa, a convite do acionista da siderúrgica, a japonesa Nippon Steel. Em Ipatinga, uma expressiva comunidade japonesa se formava em decorrência da construção da Usina, uma joint venture de capital misto brasileiro e japonês.
O casal herdeiro do trono do país oriental chegou a Ipatinga, sendo recebido por centenas de japoneses, que povoavam as ruas da cidade. Estes se estabeleceram na região para trabalhar na construção da usina. O intercâmbio entre brasileiros e japoneses a nível de comércio e indústria, intensificou-se com o acordo Lanari-Horoikoshi para a implantação da Usiminas. Este intercâmbio Brasil/Japão propiciou uma relação fortemente amistosa entre as duas nações.
O visitante ilustre
Akihito nasceu em Tóquio, dia 23 de dezembro de 1933, sendo o 125° Imperador do Japão. Depois da morte de Hirohito em 1989, o seu primogênito, Akihito, sucedeu-lhe no trono de uma monarquia com cerca de 2.600 anos de história.
Akihito, que de acordo com a tradição viveu e foi educado desde os três anos fora do palácio imperial de Tóquio, sendo o primeiro membro da família real a frequentar uma escola pública, estudando economia política, história e direito. Em 1952 foi nomeado príncipe herdeiro e, em 1959, casou-se com Michiko Skoda, filha de um homem de negócios e, portanto, plebéia, outro fato inédito na história do Trono do Crisântemo. Em 1988, Akihito, por causa da doença do seu pai, assumiu as responsabilidades da coroa e, na primavera de 1990, foi proclamado 125º imperador do Japão. Designou seu reinado como a era Hesei (da paz conseguida). Na histórica visita à Coréia do Sul, em 1990, tornou público seu “mais profundo pesar” pelos sofrimentos do povo coreano sob o domínio japonês (1910-1945), no que constituiu uma iniciativa de autocrítica do Japão ao seu passado mais recente.
A reportagem histórica
A então reportagem, publicada em 2009, na edição comemorativa do aniversário de Coronel Fabriciano, contava um pouco da história de Wantuil Cariolando da Silva, marceneiro, fabricante de móveis nobres em Coronel Fabriciano, cuja mobília da recepção do Grande Hotel, bem como de inúmeras casas luxuosas da região, inclusive da capital mineira, fora fabricado em sua marcenaria, localizada na conhecida Baixada do Melo Viana, hoje, ocupada pela avenida Magalhães Pinto.
Segundo Wantuil, em entrevista à Caminhos Gerais para a edição número 21, a beleza da mobília fabricada por ele, com jacarandá retirado da região, adquirida pelo Grande Hotel, havia maravilhado o herdeiro do trono japonês e sua esposa. Wantuil disse ainda, que o encantamento do príncipe pela mobília foi tamanha, que a diretoria da Usiminas imediatamente providenciou uma encomenda de uma estante, um jogo de copa com mesa e cadeira, uma mesa de centro e uma namoradeira com palhinha, todos feitos com jacarandá, para presentear o ilustre visitante.
Algumas semanas depois, o jogo de copa e as demais peças foram cuidadosamente embaladas e transportadas por Sebastião Martins, então sócio da Transportadora Martins, até Belo Horizonte, onde dali, seguiu com destino ao Japão, em avião.
Wantuil orgulhava ser um dos mais solicitados fabricantes de móveis nobres da região. Suas obras estão presentes ainda hoje em algumas das mais luxuosas casas do Vale do Aço. Segundo ele, muitas casas do bairro Castelo em Ipatinga, tem mobílias fabricadas em sua marcenaria. Ele listava com orgulho alguns clientes, como o médico Maurício Anacleto, o então diretor da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, José Roque Pires e Abel de Carvalho, então pioneiros fabricianenses.
Wantuil, bem humorado, contou que montar uma fábrica de móveis em Coronel Fabriciano foi por acaso. Segundo ele, em 1959, veio com o time de futebol de Inhapim jogar contra o Social Futebol Clube, e ao conhecer a cidade, gostou tanto, que nunca mais voltou para sua terra natal.
Em Coronel Fabriciano, devido sua experiência em carpintaria, Wantuil trabalhou na fábrica de móveis de Francisco Dimas, no bairro Nazaré, conhecido na época como Buraco da Nazaré. Wantuil ressaltou que a inexistência de lojas especializada em móveis na cidade favorecia para uma crescente procura por móveis fabricados na própria região. A abundância de madeira de qualidade também favorecia para a boa comercialização de móveis, principalmente residenciais e móveis para escritórios. “Jacarandá, peroba rosa, peroba do campo, vinhático era igual mato, parecia que não acabaria nunca” afirmava ele.
Um ano e meio depois, Wantuil abriu sua própria carpintaria na Baixada do Melo Viana, na época, cortada pela avenida Magalhães Pinto, que segundo ele, não passava de um trilho no meio do colonião. Em todas as casas tinha um móvel de peroba, garantia Wantuil. Na simplicidade de um verdadeiro mestre, Wantuil recordava também de uma viagem que fez à Vargem Alegre, onde comprou 30 toras de jacarandá, depositando-as pelas ruas próximas à serraria. Outro fato que Wantuil recordou com bom humor, foi da enchente de 1979, ano em que as águas levaram suas tábuas e algumas toras de jacarandá e peroba estocadas em frente a serraria. Para resgata-las, Wantuil as amarrou em uma corda e as arrastou com água na cintura até a serraria, recuperando toda a madeira.
Homenagens
Na década de 2010, Wantuil faleceu, deixando uma volumosa obra de arte expressa em mobílias nobres, espalhadas pela região, Belo Horizonte e no palácio imperial japonês.