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O mais antigo povoamento na formação da atual micro região do Vale do Aço, originou de um núcleo de mineração colonial

Antônio Dias Abaixo, fundado em 1 de junho de 1706 de um núcleo de bandeirantes, celebra seus mais de três séculos como porta de entrada para a história do Vale do Aço.

Na localidade de nome Arraial Velho, poucos quilômetros rio acima da sede do atual município, o bandeirante Antônio Dias de Oliveira ergueu um acampamento, fazendo do lugar um promissor núcleo de mineração aurífera. Ali, o bandeirante começa a escrever os três séculos de história do município, que tem sua origem no mais rico período da história de Minas Gerais, que teve seu auge no Ciclo do Ouro.

Casa onde morou o bandeirante Antônio Dias de Oliveira

No local, o bandeirante parou de avançar pelo rio Piracicaba, estabelecendo-se como o primeiro habitante do lugar. Provavelmente, porque ali, terminavam as corredeiras da Bacia do Rio Piracicaba, ambiente propício para o afloramento dos ricos aluviões. Adiante, após a Cachoeira do Salto, o Rio Piracicaba corria manso pelas planícies do Baixo Piracicaba, na direção do Rio Doce. Outra provável razão do bandeirante encerrar sua jornada naquele núcleo de mineração, seria o descortinar diante de seus olhos de uma imensidão de floresta impenetrável, habitada pelos índios botocudos e infestada de endemias.

O nascente arraial viria a ser séculos depois uma fronteira entre a história do Brasil Colônia e a história do Brasil indústria.

Antônio Dias tornou-se o ponto de conexão entre a história medieval, quando o território era uma Colônia de exploração e a história contemporânea, quando o território se torna um Estado Nacional.

 

Vila de Antônio Dias Abaixo, ainda distrito de Itabira, no início do século XX – Foto: Reprodução do livro “Josefa e sua Gente”

Vindo de TaubatéAli, nas cercanias do Pico do Itacolomi, na localidade onde formou o Arraial do Ouro Preto e Vila Rica, por volta de 1696, Antônio Rodrigues Arzão descobre as pepitas escurecidas pelo óxido de ferro. Antônio Dias de Oliveira, então vindo do povoado paulista de Taubaté, ocupou o lado da nascente do ribeirão, iniciando a exploração do mais abundante filão de ouro da Capitania. O local, batizado com seu nome, permanece até os dias atuais como um dos mais importantes bairros da cidade histórica de Ouro Preto.

Bandeirantes paulistas a caminho das minas de Minas Gerais – Foto: Museu Paulista da USP – Domínio público 

Antônio Dias e Pilar de Ouro Preto, marcam o nascimento do então Arraial, onde inúmeras outras atividades mineradoras surgiram nas Serras de Ouro Preto, como: Lavras do Coronel Veloso, do Morro da Queimada, Saragoça, do Morro São João, Tassara e do Moreira, Sumaré e Taquaral.

Ao bandeirante e o Padre João de Faria Fialho, são atribuídos a fundação da cidade histórica.

 

O importante bairro Antônio Dias, em Ouro Preto, onde se atribui o surgimento da cidade colonial – Foto: Arquivo Particular

Reconhecido como descobridor de ouro, em 1706, o bandeirante Antônio Dias de Oliveira abandona o primeiro sítio de assentamento denominado Antônio Dias, e embrenha-se em novas expedições, porém, na direção do Rio Piracicaba.

Dali, descendo na direção leste, o explorador passando por Santa Rita Durão, Santa Bárbara, São Miguel do Piracicaba e São José da Lagoa (Nova Era), chega à localidade nomeada de Antônio Dias Abaixo, em referência ao núcleo de garimpo de nome Antônio Dias, à margem do Rio do Carmo, nascedouro da cidade de Ouro Preto.

Capitania de Minas Gerais

Ainda no início do século XVIII, o grande volume de ouro extraído, e a Revolta de Vila Rica, que despertou na Corte Portuguesa a necessidade de uma administração mais autônoma sobre as ricas minas, a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, instituída em 1709, é desmembrada, criando então em 2 de dezembro de 1720 a Capitania de Minas Gerais. Data esta, considerada o nascimento simbólico do estado de Minas Gerais. Na Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo (Mariana), o primeiro governador da Capitania, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho fixa residência, iniciando a administração política do futuro Estado de Minas Gerais, estabelecido como federação na Proclamação da República, em 1889, um ano após a abolição da escravatura em 1888.

Mapa de Minas Gerais de 1911, 191 anos após a criação da Capitania de Minas Gerais

Entretanto, a mais nova e rica unidade administrativa da Colônia, antes de receber o nome de Capitania de Minas Gerais, denominava-se Campos de Cataguá, em referência à região ser habitada pelos índios Cataguá, Minas Gerais dos Goitacazes, Minas Geais do Ouro Preto e Província de Minas Gerais.

Personagem entre outros, que removeram os depósitos auríferos de aluvião nas barrancas e que deram status à divisão da Capitania paulista, Antônio Dias de Oliveira foi um dos poucos bandeirantes que não prestou à captura de indígenas para serem escravizados pela Colônia. Dedicado à mineração, o desbravador encerrou suas aventuras em seu derradeiro acampamento, em Antônio Dias Abaixo, onde morreu e foi sepultado.

Em 1736 com 90 anos de idade, Antônio Dias de Oliveira morre, sendo sepultado no adro da igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré, no Centro do povoado.

O esplendor do barroco mineiro na Igreja matriz de Nossa Senhora de Nazaré, local onde o bandeirante está sepultado, revela a força da mineração no povoado – Foto: Elvira Nascimento 

Enterrado na entrada da igreja, construída em 1727, segundo antigo relato, ao reformar a igreja, a lápide de pedra com a inscrição do nome do bandeirante foi literalmente fragmentada a marretadas e utilizada seus pedaços como material na massa de concreto para a construção da escadaria no adro da igreja.

Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias Abaixo

Junto ao bandeirante, seus escravos, aventureiros, tropeiros, descendentes e seus saberes edificaram o arraial, que em 14 de julho de 1832, eleva-se à Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré de Antônio Dias Abaixo, através de resolução do Conselho Provincial, ocasião a qual estimava-se a presença de cerca de pouco mais de 2.030 habitantes.

As duas cidades, Ouro Preto e Antônio Dias até final do século XIX, quando Ouro Preto ainda abrigava a capital do estado de Minas Gerais, as relações políticas se mantinham ativas por seus interlocutores legislativos, sob a luz de suas raízes.

O pesquisador Mário de Carvalho Neto, observa os vestígios de uma antiga lavra de pedra sabão para fabricação de panelas de pedra. Técnica utilizada nos arredores da cidade primaz de Mariana – Foto: Arquivo CG

Ainda no século XIX, o povoamento foi elevado à categoria de distrito de Itabira, sendo desmembrado em 30 de agosto de 1911, pela lei estadual nº 556, sob a condição de vila, instalando-se em 1º de junho de 1912 com o nome de Antônio Dias Abaixo.

A lei estadual nº 716, de 16 de setembro de 1918 alterou sua denominação para simplesmente Antônio Dias. Estabelecida a condição de cidade pela lei estadual nº 893, de 10 de setembro de 1925, em 7 de setembro de 1923, pela lei estadual nº 843 foram criados os distritos de Hematita e Melo Viana, que ainda permanece como distrito, porém do município de Coronel Fabriciano. Até a emancipação de Coronel Fabriciano, o território de Ipatinga também pertencia a Antônio Dias.

Novos tempos

Com a chegada da estrada de ferro e as indústrias do aço em seus distritos, Antônio Dias passa a fornecedor de mão-de-obra, impactando negativamente sua dinâmica rural – Foto: Arquivo Particular

No início do século XX, Antônio Dias, ainda distrito de Itabira experimenta um novo período de sua história, o crescimento da agropecuária, a chegada da estrada de ferro e a instalação das indústrias siderúrgicas em seu território. Em decorrência do crescimento e emancipação de seus distritos industriais, Antônio Dias passou pelo esvaziamento demográfico, passando a fornecedor de mão-de-obra para as empresas, afetando fortemente sua vocação rural.

 

Com a chegada das indústrias do aço, a atividade rural em Antônio Dias foi fortemente impactada pela perda de mão-de-obra para as usinas – Foto: Arquivo CG

Os vestígios do passado fixados na religiosidade, na gastronomia, na indústria artesanal permaneceram vivos até os dias atuais, porém os laços históricos com o Centro do poder provincial se desataram.

Ainda hoje, o chapéu de palha é o carro chefe da indústria artesanal de Antônio Dias – Foto: Elvira Nascimento

As tradições culturais e religiosas, os casarios do século passado preservados e o clima de montanha, permaneceram, fazendo do município uma porta de entrada ao universo de memórias de Minas Gerais.

 

O vínculo histórico do município de Antônio Dias que celebra mais de três séculos de existência – por meio de suas conexões com a Colônia portuguesa, o Ciclo do Ouro, com a criação do Estado de Minas Gerais, com a história da colonização do Vale do Piracicaba e sua ligação direta com um dos mais importantes bandeirantes de nossa história – tem dimensões colossais e intrinsecamente enraizado, deixando aberta para a posteridade, uma longa estrada de conhecimento a desvendar.

Antônio Dias hoje, conecta com seu passado por meio de suas tradições históricas e culturais e seus casarios preservados – Foto: Elvira Nascimento 

Retroceder no tempo pelos caminhos do bandeirante por meio da memória escrita, falada e geográfica, é reencontrar o passado e reconstruir a história em sua legítima grandeza.

A equipe da revista Caminhos Gerais parabeniza a população de Antônio Dias por essa data.

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