
Inaugurada em 1968, a pioneira Rádio Educadora foi escola para grande número de renomados radialistas da região
Ameaçado pela televisão, quando o revolucionário aparelho foi lançado no Brasil em 1950, transmitindo a TV Tupi, o rádio resistiu a moderna concorrência, reinventando-se e permanecendo com força total até os dias atuais.
O rádio no Brasil

Na década de 1920, a primeira transmissão radiofônica do país, o Calado (Cel. Fabriciano), não passava de um pequeno povoado – Foto: Acervo Museu Histórico de Coronel Fabriciano
No mesmo ano em que os primeiros engenheiros contratados para construção da Estrada de Ferro Vitória à Minas chegaram ao povoado do Calado, 1922, ocorreu no Rio de Janeiro a primeira transmissão radiofônica no Brasil. Durante a Exposição do Centenário da Independência, a empresa norte-americana Westinghouse instalou no alto do Corcovado um transmissor de 500 watts para transmissão do pronunciamento do presidente Epitácio Pessoa. Segundo depoimento do cientista e educador Edgar Roquette Pinto, principal articulador da iniciativa e considerado o pai da radiodifusão brasileira, praticamente ninguém ouviu nada da transmissão. O barulho na exposição era muito grande e os alto-falantes eram relativamente fracos. Mas, mesmo assim, a novidade provocou enorme sensação. Fora do evento, apenas 80 receptores espalhados na então capital federal e nas cidades fluminenses de Niterói e Petrópolis acompanharam a transmissão experimental, que incluiu a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, encenada no Teatro Municipal.
Transmissão em alto-falantes
Cerca de 30 anos mais tarde, com o nome trocado de Calado para Coronel Fabriciano, a agora cidade viveria uma experiência semelhante. Por intermédio do comerciante José Avelino Barbosa, foi instalado um possante rádio transmissor Phillips, o primeiro da região, com transmissão em linha para diversos alto-falantes espalhados pelos postes do Centro da cidade. Era retransmitida a programação das rádios Nacional e Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro. A intenção era popularizar o uso dos aparelhos de rádio, os quais ele vendia em sua loja, inclusive os primeiros à pilha vendidos na região.

A partir de um transmissor Phillips, os alto-falantes instalados nos postes do centro da cidade, recebiam a programação de rádios do Rio de Janeiro – Foto: Acervo Museu Histórico de Coronel Fabriciano
O rádio no Vale do Aço
Entretanto, a história do rádio na região, começa mesmo com a instalação da Rádio Educadora AM, quando a emissora em teste entrou no ar em 12 de junho de 1966. O sonho de levar a cultura popular e a educação através das ondas do rádio, para as mais distantes localidades Vale do Aço se tornou realidade graças à iniciativa dos Redentoristas iniciada em 1964.

Instalação da torre no bairro Alegre (Timóteo), em 1968 – Foto: Arquivo particular
Em 1965, foi assinado o contrato entre o poder público e a Congregação Redentorista, na época, representada pelo padre Marcos Fernandes Guabiroba. O dia 02 de fevereiro de 1968 ficou marcado na história de nossa região com o início das transmissões em caráter experimental. O radialista Aurélio Caixeta, foi o primeiro a falar nos microfones da emissora.
Os ideais de transmissão da Rádio Educadora, trazendo informações, notícias e música, coincidia com um período memorável na história da cidade, o fortalecimento da famosa vida noturna fabricianense, que tinha a música como fator de integração. Neste período, a juventude tinha como alternativa, ouvir a Rádio Mundial do Rio de Janeiro, filiada à Rádio Globo. Com estilo jóvem, e sintonizada apenas à noite, a rádio carioca foi desbancada pela nova emissora.

A Rádio Educadora passa a ser uma opção musical para os jovens, quando a boemia fabricianense projetava-se diferenciada por toda a região – Foto: Arquivo particular
Neste período, o comércio fabricianense crescia vertiginosamente, atraindo consumidores de seus ex-distritos industriais, Timóteo e Ipatinga, recém emancipados. A inauguração da Rádio Educadora impulsionou ainda mais o comércio local, quando a emissora passou a veicular publicidade dos estabelecimentos comerciais. A economia da região esperimentava uma nova era na comunicação, tendo ao seu alcance o primeiro veículo de mídia.

O comércio também se beneficiou com a emissora, tendo a parceiria do primeiro veículo de mídia na região – Foto: Arquivo particular
Outra data marcante para a Rádio Educadora é o dia 18 de março de 1968, quando a emissora entrou oficialmente no ar, iniciando sua missão evangelizadora.
Ao longo dos anos a programação da Rádio Educadora tem seu conteúdo voltado à comunidade do interior mostrando-se atuante e profunda conhecedora dos problemas da região e da necessidade da informação para todos, fazendo parte do dia a dia das comunidades.
Eventos
A história da Educadora é marcada também por eventos externos ao próprio estúdio, como promoção de campanhas solidárias, transmissões de cerimônias religiosas e shows com teores religiosos, como a apresentação de Padre Manzotti e comemorações de aniversários junto à sociedade.

Grande evento realizado pela Rádio Educadora, a apresentação do Padre Manzotti na Praça da Estação – Foto: Acervo Rádio Educadora

Grande público marcou presença no evento – Foto: Acervo Rádio Educadora
No Memorial do Rádio, inaugurado na emissora na década de 2000, e desativado atualmente, salientava que: “a descoberta do Rádio reduziu ainda mais as distâncias entre nós. Ultrapassou fronteiras, estreitou laços. Alimentou sonhos e a imaginação de muitos. Serviu também como instrumento a favor de guerras e revoluções. Nos seus primórdios transmitia por suas ondas vozes e muitos ruídos. Hoje, por meio delas, nos conectamos pela internet, navegando num mundo de infinitas possibilidades.
O Rádio surgiu num momento de pujantes transformações, numerosas e constantes, e logo quando conquistou seu espaço, teve sua morte anunciada pelo surgimento da TV, mas, soube se reinventar e garantir seu espaço em nossas vidas. Ele é, e certamente continuará presente em nosso cotidiano por muito tempo.
Dentro deste panorama, a Província do Rio de Janeiro juntamente com a Rádio Educadora, cumprindo seu papel como emissora nestas mineiras terras, oferecem aos seus ouvintes este espaço, o Memorial do Rádio Pe. Marcos Guabiroba C.Ss.R. A fim de possibilitar mais um elo entre a população do Vale do Aço e a sua pioneira na radiodifusão. O Memorial propõe-se como um centro irradiador da história do Rádio, de modo especial no Brasil e particularmente a História da Rádio Educadora.”
Radialistas
Em 2 de fevereiro de 1968 o coromandelense Aurélio Caixeta foi o primeiro radialista a falar, em caráter experimental, nos microfones da Educadora, que entrou oficialmente em operação no dia 18 de março de 1968. Deste modo, o locutor da estreia foi o aimoreense Leôncio Corrêa, que às cinco horas da madrugada deu início às transmissões do programa Despertar Sertanejo. O Leôncio foi certamente o funcionário que durante mais tempo trabalhou na Educadora AM 1010. Depois de um ano à frente do programa sertanejo, passou a comandar o departamento de jornalismo da emissora, onde ficou por mais de 25 anos.

Aurélio Caixeta, o primeiro radialista – Foto: Arquivo particular
Um dos radialistas mais renomados do rádio regional foi Edmar Moreira. Nascido em Itaperuna (RJ), desde a juventude esteve ligado aos movimentos estudantis e lutas sociais. Em 1968 formou um grupo de teatro que viajou pelo país apresentando a peça Faz Escuro Mas Eu Canto, sobre poema de Thiago de Mello denunciando a opressão do regime militar. A turnê foi interrompida na cidade de Natividade (RJ) e todos os atores e atrizes foram presos, torturados e fichados no DOPS. Solto em 1969, foi morar com os pais em Tombos (MG). No princípio de 1971, veio para a Rádio Educadora. Sua experiência anterior no rádio tinha sido no Movimento de Educação de Base, processo que utilizava o sistema de alfabetização do professor Paulo Freire, com aulas transmitidas por emissoras de rádios regionais.
Ao assumir a Direção Artística da Educadora, Edmar Moreira direcionou o microfone da emissora para o povo, definindo uma programação mais popular e democrática. A rádio passou a discutir e retratar a falta de infraestrutura básica nas cidades da região e denunciar desrespeitos aos direitos humanos. Seu programa tornou-se líder de audiência e ele passou a ser reconhecido como a “voz do povo”, concedendo amplo espaço a sindicalistas, músicos, compositores e atores. Mas o sucesso veio acompanhado de perseguições arquitetadas por políticos mal intencionados e por diretores de empresas denunciadas por agressões ao meio ambiente.

Edmar Moreira entrevista o ator Tony Ramos – Foto: Arquivo particular
Ricardo Medeiros, José Geraldo Magela Júnior, Vitor Pergo, Mauro Velasco, Cacau Borges, Gilberto Medeiros, Ademir Cunha, Lima Muniz, Aparecida Neves, Luciano Pascoal, Manoela Suely e Izael Godói, que trabalhou na emissora entre 1988 e 2001 e depois na Vanguarda entre 2002 e 2008. Dois programas ficaram na memória dos ouvintes da Educadora. O primeiro, um programa sertanejo comandado pelo radialista Atanázio Pereira Mendes, o Compadre Juca e o segundo, um programa policial, Ronda do Vale, apresentado por Artur Machado, que foi líder de audiência por vários anos. Artur também fez história interpretando um personagem caipira chamado Zé da Roça.
Entre os programas religiosos diários, Um Momento com Dom Lélis Lara, permaneceu no ar por mais de 25 anos no ar.

Durante mais de 25 anos, o quadro “Um Momento com Dom Lélis Lara” se manteve com forte audiência – Foto: Arquivo Caminhos Gerais
A Educadora foi a primeira emissora do interior mineiro a transmitir com equipe própria uma Copa do Mundo, a de 1986, no México. A equipe de esportes da rádio fabricianense também liderou uma rede para outras transmissões internacionais importantes, como Libertadores e Supercopa. Quando as tevês não transmitiam com a frequência de hoje o Campeonato Brasileiro, a emissora fabricianense foi a primeira do interior a acompanhar Atlético e Cruzeiro em partidas disputadas fora do estado. A lista de locutores, comentaristas e repórteres esportivos que atuou na Educadora é extensa: Jonas Conti, Ednei Scáfora, Dinei Monteiro, Lima Muniz, Nelcy Romão, Pedro Márcio Milanez (Ferreirão), Wander Santos, Sinésio Miranda, Roberto Moutinho, Roberto Siqueira, Paulo Cézar Santos, Cardoso Neto, Eustáquio Silva Neto, Moacir Arantes e Emiliano Magno, que começou comentando desfile das escolas de samba de Timóteo nos anos 1980. Roberto Nogueira e Dário de Freitas, mantinha outros dois programas, Bom Dia Vale do Aço e A Tarde é Nossa, respectivamente.

Wnder Santos reforça as transmissões esportivas da Rádio Educadora
Wander Santos, além de integrar a equipe esportiva da emissora, apresentou programas de grande audiência. Ele chegou à Educadora em 1980, convidado por Edmar Moreira, que o trouxe da Rádio Montanhesa, de Viçosa.
À noite, o radialista João Poeta apresentava o Sertanejo na Cidade.
FM com músicas de classe
Em janeiro de 1991 foi inaugurado o transmissor de 10.000 watts e, mais recentemente, para fortalecer a imagem da emissora, a grade da programação foi reformulada, com transmissão da rádio na internet, bem como a criação de um canal extra na web (www.educadoramg.com.br) voltado para um público mais segmentado. Em 2004, foi inaugurado o canal FM 107,1, com programação de músicas mais selecionadas, apresentadas pelo locutor Pira. Ainda hoje, a 107,1 se mantém fiel com músicas de qualidade, sendo a única da região com programação Classe A.
Totalmente digital
Com mais de 57 anos de história, recentemente a rádio passou por uma reformulação tecnológica radical, deixando o sistema analógico no passado, operando agora na frequência 91,7 FM, totalmente digital, trazendo uma nova identidade e programação para seus ouvintes. Juntamente com o novo sinal mais limpo e tpotente, em FM (Frequência Modulada) , a Educadora investil alto em suas instalções, implantando quatro novos estúdios equipados com a mais alta tecnologia radiofônica. Além do investimento interno, a emissora reestruturou toda fachada do prédio, remodelando-a com um belo projeto arquitetônico, que remete à um aparelho de um rádio.
Roberto Nogueira, radialista, jornalista e músico com uma trajetória de 28 anos na Rádio Educadora tem sua carreira é marcada por uma atuação multifacetada, destacando-se como locutor, apresentador e narrador esportivo além de repórter.

Roberto Nogueira com as colegas de trabalho – Joana Avelino, diretora administrativa e Cristie Soares, diretora comercial e de eventos- Foto: Arquivo particular
Atualmente, Nogueira apresenta o programa microfone aberto na 91,7 e o programa Tarde Show Educadora. Aos sábados, de 11 da manhã ao meio dia, apresenta um dos melhores programas de samba do estado.
Roberto é reconhecido por seu envolvimento em projetos sociais e culturais. Sua dedicação à comunicação e à cultura local foi reconhecida pela Câmara Municipal de Coronel Fabriciano, que lhe concedeu o título de cidadão honorário, recebendo também uma Moção de Aplausos da Câmara de Timóteo e foi vencedor do prêmio Unileste/MG de jornalismo em 2006.
Reinauguração
Na noite desta sexta-feira (09/05) a Rádio Educadora celebrou sua reinauguração, apresentou suas novas identidades visuais e sua nova transmissão em FM, iniciando então uma nova história na radiodifusão do Vale do Aço, em parceria com a Rádio Aparecida.

Cerimônia de reinauguração – Foto: Arquivo CG

O diretor artístico e de programação Mateus Cabral recepcionou os convidados – Foto: Arquivo CG

Os prefeitos de Timóteo e Fabriciano. Vitor Prado e Sadi Lucca, o diretor geral das Rádios Educadora e 107,1, o Pe José Wilker, o deputado Celinho e o presidente da Câmara de Ipatinga, Ley do Trânsito – Foto: Arquivo CG

Wiliam de Paula, coordenador de Comunicação da Usiminas e Polliane Silva Torres Stokler, do Instituto Cultural Usiminas – Foto: Arquivo CG

A equipe de jornalistas: Janete Araújo, Felipe Machado e Bruna Lage – Foto: Arquivo CG

Mateus Cabral, Joana Teles, Mário de Carvalho Neto (Caminhos Gerais) e Márcio de Paula (O Informante) – Foto: Arquivo CG