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A escritora Zaíra deixou mais de 10 trabalhos literários como legado

No último sábado (27/05), a pioneira Zaíra de Carvalho faleceu aos 86 anos de idade, vítima de leucemia.

Publicamos hoje, a entrevista de Zaíra, concedida em 2016 à revista Caminhos Gerais, no momento que a literatura timotense ainda se despede de sua maior escritora.

Zaira de Carvalho no lançamento da revista Caminhos Gerais, edição especial Timóteo

Um pouco de Zaíra

A escritora Zaira de Carvalho, nascida em São Sebastião do Alegre, antes mesmo do então povoado ser elevado a distrito com o nome de Timóteo, foi testemunha ocular da compra da Fazenda Dona Angelina, pertencente a seu irmão Raimundo Alves de Carvalho, pela a Acesita (Aperam) e da construção da siderúrgica.

Ainda menor de idade, Zaíra trabalhou a Aciaria, sendo a única mulher a trabalhar no interior da usina. Entretanto, a vocação para o altruísmo, falou mais alto e Zaíra ingressou na congregação religiosa Carmelita da Divina Providência em Ouro Preto, para cuidar de crianças órfãs em orfanatos. Retornando para Timóteo, outro dom despertou em Zaíra, a literatura, levando-a graduar-se em Licenciatura Plena em Letras e pós-graduada em Língua Portuguesa pela PUC/MG.

Na literatura, Zaíra escreveu 10 livros e coordenou 5 coletâneas de escritores de Timóteo à frente da Acemt – Associação dos Poetas e Escritores do Município de Timóteo, que ela fundou.

Um de seus principais trabalhos, “Histórias de Timóteo” Zaíra conta um pouco da história da cidade por meio de depoimentos dos pioneiros.

Histórias de Timóteo, importante obra literária de Zaíra

Entrevista

Em seu livro não consta relatos sobre o comerciante Manoel Timóteo, que segundo uma outra versão, é responsável pelo nome da cidade?

Eu nasci na antiga fazenda do Alegre, que pertenceu ao meu pai, em 1936, antes mesmo do povoado São Sebastião do Alegre ser elevado a Distrito com o nome de Timóteo, e pertencer a Antônio Dias, em 1940. Conversei com quase todos os primeiros moradores da região, quando grande parte do atual território era uma mata fechada, assim como com seus herdeiros. Contudo, nenhum deles afirmaram ter conhecido ou mesmo ouvido falar desse tal comerciante chamado Manoel Timóteo. Desconheço as razões que levaram a comissão que criaram o Decreto-lei Estadual número 1.058 de 31 de dezembro de 1940 que substituiu o nome de São Sebastião do Alegre para Timóteo. Tudo leva a crer que a história do comerciante não passa de uma lenda, um folclore, e que a verdadeira razão do município ter o nome Timóteo é devido ao povoado ter se estabelecido à margem do Ribeirão Timóteo, nome dado ao curso d’água pelo barão Wilheim Von Eschwege em homenagem ao seu afilhado Thimóteo, quando foi encarregado de levantar a carta geográfica de Minas Gerais em 1810. Temos outros exemplos de cidades que tiveram seus nomes associados a cursos d’água, como Rio Piracicaba, Ribeirão do Carmo, Rio Doce.

O que motivou a senhora escrever a História de Timóteo?

Não havia literatura específica sobre a história regional contextualizada na memória dos primeiros moradores responsáveis pela transformação da região. Desde 1970 que venho me empenhando no resgate da memória e de relatos dos pioneiros de Timóteo com o objetivo de publicá-los. Sempre observei que havia diversas lacunas abertas na história do município, que poderiam ser completadas com estes testemunhos verdadeiros. Com as anotações feitas à mão nos anos 70 e gravações em fita cassete na década de 80, eu decidi editar o livro, que ao meu ver, é um documentário histórico fundamental para a preservação da nossa memória.

Não se encontra na cidade uma homenagem sequer ao engenheiro Alderico. O que a senhora tem a dizer sobre este personagem?

Doutor Alderico foi um dos principais responsáveis por este empreendimento industrial que mudou a história da região. Na minha opinião, ele foi avaliado por juízos simplistas. Atribuíam a ele uma personalidade sovina, o que penso ser uma injustiça. Doutor Alderico foi um homem extremamente honesto, que dedicou toda a sua vida à Acesita e que merece o reconhecimento por parte da sociedade timotense.

Além deste livro, quais outros a senhora publicou?

Antes porém, gostaria de falar da Apemt – Associação dos Poetas e Escritores do Município de Timóteo. Tive a satisfação de fundar a entidade em 1986, que por meio dela, publiquei 14 livros de minha autoria, dentre eles livros de poesias, trovas, sobre a história do setor da saúde de Timóteo e livros didáticos. A Apemt lançou também 5 coletâneas com diversos escritores da região, escritores estes que não podiam financiar sozinho o seu livro.

Quais outras experiências a associação trouxe à cidade?

A associação foi responsável também por uma efervescência cultural em Timóteo nas décadas de 1980 e 90. Devido a série de viagens que eu fazia pelo Brasil palestrando sobre a literatura do Vale do Aço, tive a oportunidade de me aproximar de organizadores de importantes eventos literários no pais, que me auxiliaram realizar cinco congressos de âmbito nacional de trovas e de literaturas em Timóteo. Como filiada à Febet, Federação Brasileira de Entidades Trovistas, a qual eu era diretora cultural no Rio de Janeiro e diretora cultural do Clube dos Trovadores Capixaba, recebi o apoio de diversos escritores renomados que aqui estiveram ministrando oficinas a novos escritores. Dentre eles, Osvaldo França Júnior e Manoel Messias de Vasconcelos. O Clesi de Ipatinga este ano estendeu suas atividades à Timóteo, uma iniciativa exemplar de integração cultural.

Além de seu livro, foi lançado recentemente o livro sobre a história da Região Metropolitana do Vale do Aço pela historiadora Marilene Tuller e o Almanaque sobre a história de Coronel Fabriciano pela revista Caminhos Gerais. Como a senhora vê esses investimentos na história?

Primeiramente, vejo isso como uma convergência cósmica, isto é, a mão de Deus operando no desenvolvimento das pessoas por meio da sua própria história. É uma mudança nas pessoas no modo de olhar para a própria trajetória de vida e também o reconhecimento da importância da história na construção do futuro. A história do Vale do Aço é de um dinamismo extraordinário. Há menos de um século tudo era mata e hoje, é isso aí, um aglomerado industrial conectado com o mundo.

A senhora tem outros planos literários?

Atualmente dedico a minha vida a trabalhos sociais. Junto a amigos, em 1992 fundamos o Lar das Meninas, que para mim era um sonho, trabalhar num orfanato. Em relação à literatura, a minha crítica é que a região não valoriza muito o trabalho produzido por escritores da própria região. Temos muito talento nascido aqui e vindo de outros lugares que produzem coisas extraordinárias.

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