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Sem a luz dos holofotes da mídia, a agricultura familiar emprega mais de 4,4 milhões de famílias e tem se mantido como a principal fonte de alimentos na mesa dos brasileiros.

Uma das primeiras atividades no alvorecer do dia, onde o braço humano muitas das vezes faz o papel de um implemento agrícola, é onde também se ocupa milhões de famílias brasileiras, de sol a sol, plantando e colhendo o nosso alimento.

Mais de quatro milhões de famílias se esforçam para produzir a comida do país

Alardeado como a grande fonte de divisas, o agronegócio, cuja produção em escala gigantesca pouco ou nada tem a ver com a alimentação dos brasileiros, numa perversa contradição em uma nação que vivencia uma impensável situação de “insegurança alimentar” para mais da metade da população. Essa grande commoditie (mercadorias cotadas na Bolsa de Valores de Chicago) pega o caminho dos portos, indo alimentar outros povos ou transformar-se em ração animal. Enquanto a agricultura familiar recebe pouca atenção dos sucessivos governos, o agronegócio recebe quase toda a verba pública destinada à agricultura, além de subsídios tributários e creditícios, com acesso a empréstimos subsidiados. Com a forte Frente Parlamentar da Agropecuária, exercendo o intenso lobby a favor dos interesses dos grandes grupos agrícolas, a desproporção de áreas agricultáveis para a alimentação básica do povo brasileiro tende aumentar.

Estima-se que a contribuição do agronegócio para o financiamento do Estado nas esferas federais, estaduais e municipais, é quase zero, devido às inúmeras isenções e subsídios e incentivos fiscais, etc, além dos danos ambientais que são atribuídos a este negócio.

70% da ocupação no campo praticam a agricultura familiar

Por outro lado, a agricultura familiar no Brasil envolve aproximadamente 4,4 milhões de famílias, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e gera renda para cera de 70% dos brasileiros no campo. De acordo com a ONU – Organização das Nações Unidas, 80% dos alimentos produzidos no mundo vem da agricultura familiar.

É considerado agricultor familiar aquele que promove atividades no meio rural em terras de área inferior a quatro módulos fiscais, emprega mão de obra da própria família e tem sua renda vinculada a produção resultante desse estabelecimento. Composta por pequenos produtores rurais, povos indígenas, comunidades quilombolas, assentamentos de reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores, o setor se destaca pela produção de gêneros alimentares diversos.

Iapu – Agricultura familiar é exemplo de retorno social

A produção de abobrinha é uma das inúmeras lavouras no município – Foto: Elvira Nascimento

A reportagem destaca o município de Iapu, na região leste de Minas Gerais. Com população estimada 11 mil habitantes, Iapu já ficou entre os cinco maiores produtores de tomates do estado na década de 1990. O legume, que chegou na década de 1960, adaptando-se bem com o clima da região, chegou a ser exportado para países da América do Sul. Consta que cerca de oito caminhões eram carregados de tomates diariamente. Atualmente, a agricultura no pequeno município é diversificada, distribuída nas diversas pequenas propriedades rurais. Pimentão, abobrinha, quiabo, mandioca, jiló, inhame e, mesmo o tomate, não com o status de líder, mas ainda cultivado como preferencial para muitos produtores, banana, cana, laranja e mexerica tem levado prosperidade ao campo.

No eixo rodoviário da BR 458 e 116, vem consolidando um vigoroso polo hortfrutigranjeiro e hortaliças. Os municípios de Bugre, Iapu, São João do Oriente, Ubaporanga, Santa Rita de Caratinga, além da tradicional agricultura, os agricultores estão investindo também na produção orgânica.  Mercados como Governador Valadares, ao Norte, Caratinga e Manhuaçu ao Leste e o Vale do Aço a Oeste, formam uma população com quase 2 milhôes de habitantes.

Líder no passado, o tomate ainda se mantém forte entre os agricultores – Foto: Elvira Nascimento

O clima ameno e a terra própria para a produção de hortifrutigranjeiro, são fatores que contribuem para o crescimento do setor. Segundo estimativa do governo municipal, em 2022, Iapu fará parte da lista dos cinco grandes produtores mineiros de banana. Outro fator que contribui para o incremento da atividade é a proximidade com o Vale do Aço, região com elevado potencial consumidor de alimentos. A tradicional produção de café e leite em pequena escala também faz parte do cenário produtivo do município.

Produtores das 37 comunidades rurais de Iapu, que constituem-se em 500 famílias, compõem cinco associações e uma cooperativa. Além da crescente produção de bananas em Iapu, parte destas são transformadas em doces na própria região. Outra iguaria produzida no município, é a rapadura e açúcar mascavo.

Parte da banana produzida é transformada nos Doces Resende – Foto: Elvira Nascimento

Além do crescimento da agricultura familiar na região, os agricultores vem se organizando e se fortalecendo por meio de trocas de experiências. Mensalmente os produtores rurais se encontram para discutir temas referente a atividade.

Agricultura orgânica

Produção de orgânicos certificados crescem no município – Foto: Elvira Nascimento

Apesar do forte impacto negativo em decorrência da pandemia sobre a comercialização da produção do município, com as restrições de aglomerações em feiras livres, fechamento de restaurantes entre outras ações restritivas, os produtores rurais de Iapu e região continuaram apostando na atividade. Uma das iniciativas que vem trazendo satisfação e bons resultados, é o investimento na a produção de orgânicos. No município, há 5 grupos de produtores certificados. Em Santa Rita de Caratinga, a produção de morando orgânico aguarda inspeção para a sua certificação. Vencendo a má fama de alimentos com preços pouco competitivo em relação aos hortifrutigranjeiros tradicionais, os produtos orgânicos vêm crescendo exponencialmente na mesa do consumidor, motivados principalmente por essa nova postura da sociedade de valorizar alimentos mais saudáveis. A abertura de uma feira de orgânicos no Shopping do Vale (Ipatinga), que acontece aos sábados, tem assegurado aos produtores de orgânicos a oportunidade de expor e comercializar sua produção.

Produtores de Iapu expõem produtos orgânicos na feira “Coisa da Roça” realizada aos sábados no Shopping do Vale – Foto: Divulgação

Recuperação de nascentes

Ciente de que a agricultura depende essencialmente de água para sua irrigação, os produtores rurais em parceria com o governo municipal, implementam um importante programa de recuperação de nascentes em todo o território. Segundo Caio Silveira Melo, secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, quatro áreas de APP estão no programa, sendo uma, já totalmente concluída.

Caio destaca ainda o resultado do programa realizado pela Boachá, indústria de sorvetes, picolé e poupa de frutas em sua propriedade, que segundo ele, bateu o recorde, plantando mais de 10 mil mudas de árvores. Além das árvores de espécies nativas, a Boachá investe no primeiro projeto de fruticultura orgânica do leste mineiro, onde, além de não utilizar nenhuma espécie de defensivos agrícolas, as cascas das frutas descartadas na fábrica são transformadas em compostos orgânicos e utilizadas na adubação.

Fruticultura orgânica e reflorestamento em áreas degradadas são projetos implementados pela indústria de sorvetes, picolés e poupas de frutas Boachá – Foto: Agência 1

Está previsto para o dia 23 de outubro em Iapu, o 1º Seminário Regional da Agroecologia, onde diversos produtores rurais de diversos municípios participarão no intuito de desenvolver em suas propriedades métodos mais sustentáveis e contudo, mais saudáveis para os consumidores.

Nessa perspectiva de avançar na agricultura mais sustentável, os agricultores de cerca de 42 municípios, de Manhuaçu a Itabira, articulam a realização do evento “Produtor de Águas” patrocinado pela ANA – Agência Nacional da Água, onde uma série de ações desdobrarão na perenização de nascentes.

A próspera agricultura familiar de Iapu reflete na área urbana. Dotada de um comércio ativo, a sede do município tem observado um significativo retorno de iapuenses que moravam fora, voltando à residir na cidade. Outro fator bem avaliado pelos órgãos de segurança, são os baixos índices de violência registrado no município, principalmente na área rural, onde grande parte dos moradores têm plena ocupação e rentabilidade.

Sede do município de Iapu – Foto: Elvira Nascimento

É bem provável que a “insegurança alimentar” venha a ser vencida por essa nobre e tradicional atividade, que não tem lobby , porém, tem a força e a perseverança do homem e da mulher do campo.

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