A primeira grande atividade industrial no ainda povoado do Calado (Coronel Fabriciano), foi uma serraria
O Médio Rio Doce, no início do século XX, antes mesmo de ser cortado pela Estrada de Ferro Vitória a Minas, descortinava sobre suas planícies uma espeça floresta, outrora habitada pelos índios Botocudos. Formada por espécies da Mata Atlântica, a mata que impressionava pela riqueza de suas madeiras nobres, estendia-se até o litoral do Espírito Santo.
Não é de se surpreender que a primeira atividade na região fora extrativista, quando a Belgo Mineira (atual ArcelorMittal) instala nos arredores da estação ferroviária do Calado um escritório que administraria a instalação de diversas carvoarias para a produção de carvão, destinado a usina em Sabará e João Monlevade.
Junto ao escritório da Belgo Mineira, uma grande serraria é inaugurada em 1948 no povoado. Iniciava-se então a primeira grande atividade industrial no que viria a ser sede do município de Coronel Fabriciano. A serraria se beneficiaria das primeiras árvores cortadas na conhecida “Área Proibida”, preservada desde a ocupação pelos indígenas, antes mesmo do descobrimento do Brasil.
Na mesma década, a Acesita se instalava em Timóteo, distrito vizinho, também pertencente a Antônio Dias. Segundo relatos de antigos trabalhadores das carvoarias, o lado esquerdo do rio pertencia a Belgo Mineira e o lado direito, a Acesita. As matas de ambos os lados abasteceram os alto fornos das siderúrgicas.
A conhecida “Área Proibida”, era proibida, não porque era habitat dos índios botocudos, mas porque o Vale do Rio Doce era caminho aberto para o contrabando de minerais e metais preciosos. A Serraria encontrava pela frente um “deserto verde”, com suas máquinas ávidas para transformá-lo em tábuas.
Segundo relatos históricos, a serraria foi implantada por empresários ligados à Belgo Mineira, e tinha como representante, Joaquim César Santos. Sua produção contava com mais de 180 pessoas, revezando entre máquinas e madeira, trabalhando no corte e transporte e na administração. Antes mesmo de coronel Fabriciano se emancipar de Antônio Dias, a serraria forneceu madeira para as inúmeras construções da região, como pontes, casas, pisos, currais, galpões, além de embarcações fluviais, entre outras.
Ipê, peroba, jacarandá, jequitibá, sucupira, vinhático e braúna eram serradas dia e noite para atender a crescente demanda. Uma considerável referência sobre a abundância de madeiras nobre na região, era a casa de hóspedes construída pela Belgo Mineira de nome Casa de Campo, hoje, Clube Casa de Campo. Sua varanda era toda contornada com peças de jacarandá maciço.
Grande parte das madeiras que se transformaram em tábuas, pranchões, tacos, casas pré-moldadas, foram extraídas à machados entre Baratinha, Ipatinga, Ipaba, Praça da Onça, Revés do Belém, Boachá, Ribeirão do Boi entre outras localidades. Segundo Osvaldo Souza, motorista da serraria, na localidade onde se construiu a Usiminas foi retirada vários caminhões carregados de toras, inclusive jequitibás com mais de dois metros de diâmetro. Toda a planície era coberta por uma espeça mata, disse, e o transporte era feito por uma única via de acesso, que passava pela região denominada na década de 1960 de Candangolândia (Amaro Lanari). A estrada era na beira da linha férrea, que seguia até o centro de Fabriciano, concluiu.
Raul Perim, que transportava madeira da mata para a serraria, com seus dois caminhões internacionais KB7, contou em entrevista à revista Caminhos Gerais em 2006, que as árvores maiores eram transportadas por trem até Governador Valadares, com destino a fábrica de compensado Agro Pastoril Rio Doce. As menores eram batidas na serraria. Possuidor de uma das primeiras carteiras de motorista profissionais da região, Perim disse que não precisava ir longe buscar a madeira, “a região era só mato”.
O ex taxista fabricianense, Aderbal Grilo, em entrevista a Caminhos Gerais, também em 2006, disse que alguns anos trabalhou na máquina de fazer taco. Segundo ele, todas as casas na região com assoalho de taco, certamente os adquiriu na serraria. Tacos de peroba e ipê, madeiras resistentes, eram mais utilizados, disse.
Com a voracidade das carvoarias da Belgo Mineira e das serras da serraria, o que parecia que nunca acabaria, as matas da região, acabou. Inicia-se então o declínio da Serraria Santa Helena. Outros fatores que contribuiram para o declínio da serraria, foi o surgimento de lojas comerciais, cujas mobílias comercializadas eram fabricadas em grandes indústrias de móveis de outras praças, a aplicação de pisos cerãmicos ou pedras no lugar de pisos de madeira e o acidente ferroviário nas imediações da serraria, na década de 1960, provocando um grande incêndio no estoque de madeiras.
Com a escassez da madeira nativa no território do Médio Rio Doce, uma nova e estranha espécie de árvore é semeada na região, surge o eucalipto. Originado da Austrália, o eucalipto substituiu a madeira nativa nos alto fornos.
Da Serraria Santa Helena, restou apenas o seu nome, que na década de 1970 dá nome ao importante bairro residencial, construído no lugar.
o Ser Humano como sempre, destruindo tudo….