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Fotógrafo que registrou diversas fases da construção da Usiminas e pessoas comuns da região, José Isabel imortalizou momentos marcantes do que denominou-se o “Massacre de Ipatinga”

José Isabel do Nascimento: entusiasmo com a fotografia amadora

Na manhã de 7 de outubro de 1963, cerca de sete mil operários da Usiminas e de empreiteiras que trabalhavam na construção da siderúrgica concentraram-se defronte aos portões de entrada da usina em protesto contra os maus-tratos que vinham sofrendo por parte da polícia militar e de vigilantes da empresa. Em posição de ataque estavam 19 policiais armados de fuzis, revólveres e de uma metralhadora montada na carroceria de um caminhão. O que se seguiu ficou imortalizado como o ‘Massacre de Ipatinga’. Oficialmente, sete pessoas morreram, número que ainda hoje causa polêmica e nunca foi esclarecido.

Na lista de mortos está o mestre de montagem de estruturas metálicas da Fichet, José Isabel do Nascimento, fotógrafo amador que registrou várias fases da construção da Usiminas e naquele fatídico dia portava duas máquinas fotográficas, uma delas a alemã Rolleicord, com a qual fotografou o início da movimentação, uma metralhadora instalada num tripé e um soldado com um fuzil em cima de um caminhão antes do início do tiroteio. Na verdade, José Isabel do Nascimento teve tempo de bater um filme inteiro, tirá-lo da máquina e quando ia fazer a primeira foto do novo filme foi atingido na parte superior do abdômen por um tiro de fuzil, próximo onde é hoje o Shopping do Vale.

 

José Isabel fotografou diversas fases da construção da Usiminas

 

Trabalhadores na construção da Usiminas

 

Trabalhadores em montagens

 

Segundo o advogado Rossi do Nascimento, um dos cinco filhos de José Nascimento, e que na época do episódio tinha apenas cinco anos de idade, não foi uma bala perdida que matou seu pai e, inclusive, o fato foi testemunhado. Após o disparo, o fotógrafo amador, que certamente foi atingido por sua ousadia em registrar as cenas do massacre, colocou o filme no bolso ao ser levado para o extinto Hospital Santa Terezinha, que ficava no Centro de Ipatinga, onde morreu dez dias depois, aos 32 anos de idade. Mas suas inéditas fotos do violento episódio rodaram o mundo e foram publicadas nas revistas ‘O Cruzeiro’ e ‘Fatos & Fotos’, duas das maiores publicações nacionais na época.

Nascido em São Domingos do Prata, em 1931, José Isabel do Nascimento era um entusiasmado fotógrafo amador, tendo inclusive um laboratório em sua própria casa, na Rua 13 de Maio, em Coronel Fabriciano, onde ainda hoje reside sua esposa, Geralda Aguiar do Nascimento, que tinha 25 anos e estava grávida de sete meses da filha Luciane Mara, quando seu marido foi assassinado. Além de registrar a construção da Usiminas, José Nascimento fotografou casamentos, aniversários e pessoas amigas. É também autor de várias fotos de ruas, casas e de vistas panorâmicas da cidade de Coronel Fabriciano nos anos 1960. Não vendia nenhuma.

Esposa e filhos de José Isabel na localidade da Prainha, atual Bairro Dom Helvécio, em Coronel Fabriciano

 

Após sua morte, a família não recebeu nenhuma ajuda financeira e em razão das dificuldades financeiras enfrentadas teve que vender o laboratório fotográfico e a câmera Rolleicord foi enviada para o Rio de Janeiro para conserto e nunca mais foi vista. Somente em 2004 foi que o governo federal pagou uma indenização de R$ 100 mil à viúva Geralda Aguiar do Nascimento. Seu esposo foi enterrado no antigo cemitério de Coronel Fabriciano, onde é hoje a Praça da Bíblia, no final da Avenida Magalhães Pinto, curiosamente, o governador que deu a ordem para o ataque da polícia militar. Em 2011, José Isabel do Nascimento virou nome de rua no bairro Novo Aarão Reis, em Belo Horizonte.

José Isabel, em seus primeiros meses de vida

 

José Isabel, em auto retrato

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