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Agricultura familiar diversificada reaquecem a economia da tranquila cidade do Leste mineiro

Texto: José Célio de Sousa – Fotos: Elvira Nascimento

A área central de Iapu concentra a maior parte de sua população, formada por 10.867 habitantes, segundo dados do IBGE de 2018 – Foto: Elvira Nascimento

A tranquila e modesta cidadezinha de Iapu, com pouco mais de onze mil habitantes, parece ter descoberto um jeito próprio para enfrentar as dificuldades próprias dos pequenos municípios mineiros. A economia vem demonstrando sinais de crescimento que podem ser vistos na expansão do comércio e nos loteamentos recentes em locais nobres da área urbana. À margem de uma rodovia interestadual, a BR 458, e favorecido por sua proximidade com empresas polo como a Usiminas, Cenibra e Aperam, Iapu apresenta resultados reabilitadores em sua produção hortifrutigranjeira. Até meados dos anos 1990 era um dos cinco maiores produtores de tomate do estado. Agora o produto não é mais o carro-chefe, mas a agricultura local foi diversificada – amparada principalmente pelos pequenos proprietários. Segundo estimativa do governo municipal, em 2022 Iapu fará parte da lista dos cinco grandes produtores mineiros de banana.

 

 

Liderada pela banana, a produção agrícula em Iapu diversifica-se entre mexerica, tomate, quiabo, abobrinha, pimentão etc – Foto: Elvira Nascimento

 

O cultivo de tomate, que foi líder no passado, ainda se mentêm forte no município, responsável pelo abastecimento de diversos pontos comerciais do Leste mineiro – Foto: Elvira Nascimento

 

O clima ameno e a terra própria para a produção de hortifrutigranjeiros contribuem para o crescimento do setor. As plantações de pimentão, abobrinha, mandioca, jiló, quiabo, inhame vêm crescendo ao lado do cultivo de tomates, bananas, canas, laranjas e mexericas nos morros e encostas da aprazível zona rural de Iapu, que possui ainda razoável produção cafeeira e leiteira. Apoiados pela Emater e ações da administração municipal, como o Pacto das Águas, que em parceria com a Copasa está fazendo o cercamento ecológico das nascentes, os produtores que integram o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) escoam sua produção em escolas, feiras, rmercearias e supermercados da região metropolitana. Muitos deles vivem mesmo em pequenas comunidades familiares, formadas por duas a três casas, onde moram os filhos e netos do proprietário. Alguns deles trabalhavam em outras cidades e retornaram para ajudar no empreendimento dos pais.

A abobrinha é um dos itens de produção em escala

A cidade está recuperando sua tradição agropecuária pela diversificação do setor hortifrutigranjeiro e o emprego de inovações técnicas como o cultivo de verduras e hortaliças pelo sistema hidropônico. Há pouco menos de 30 anos Iapu era conhecida apenas por sua notável produção de tomate. Mas a forte concorrência de outros centros produtores, o custo alto da produção e o aparecimento de pragas contribuíram para o desestímulo de muitos produtores rurais. No final dos anos 1990 ocorreram várias ondas emigratórias para os Estados Unidos. Originário da costa oeste da América do Sul, a planta foi introduzida no município no inicio dos anos 1960 e se deu muito bem. Seu cultivo tomou proporções tão expressivas que nas duas décadas seguintes a produção de tomates de Iapu abasteceu outros estados e conseguiu atingir o mercado externo. Diariamente saiam da cidade cerca de oito carros carregados com o produto e toneladas de tomate foram exportadas para países da América Latina. Foi criada até a Festa do Tomate, cuja última edição foi realizada em 1994.

José Pereira Sobrinho produz banana, abobrinha, quiabo, tomate e verduras pelo programa Agricultura Familiar

Os produtores das 37 comunidades rurais de Iapu, cerca de 500 famílias, fazem parte de cinco associações e de uma cooperativa. Grande parte da produção dos pequenos proprietários é absorvida pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), abastecendo escolas municipais e estaduais. José Pereira Sobrinho e Elinaldo Souza dos Reis, ambos da localidade denominada Córrego do Bugre, são dois exemplos típicos de produtores que fazem parte do programa da Agricultura Familiar. Como a maioria, eles plantam de tudo um pouco, aproveitando a terra o ano inteiro. Ambos produzem tomate, pimentão, abobrinha, pepino, berinjela, jiló, quiabo, banana e verduras. Em média produzem uma safra anual de três mil caixas de produtos hortifrutigranjeiros. “Em razão da concorrência temos que ampliar as variedades da nossa produção. A maior dificuldade não é produzir. É vender”, explica José Pereira, de 65 anos, que comercializa a parte excedente do PNAE nas feiras populares.

Estufa e máquina selecionadora de tomates doadas pela Cenibra

Estufa

A Agricultura Familiar em Iapu, além de contar com total apoio da Emater e da Prefeitura, conta também com o apoio da Cenibra. A empresa de celulose doou uma estufa para maturação de banana e uma máquina selecionadora de tomates. Os equipamentos atendem a todos os produtores rurais – Foto: Elvira Nascimento

 

Máquina selecionadora de tomates – Foto: Elvira Nascimento

Além dos incentivos e programas promovidos pela Emater e a prefeitura, os produtores da zona rural de Iapu contam ainda com ações de apoio dispensadas pela Cenibra. O Barracão do Produtor Rural, localizado à margem da rodovia BR 458, disponibiliza dois equipamentos indispensáveis aos agricultores doados pela fábrica de celulose de Belo Oriente. Um é a estufa de maturação de banana e o outro é a máquina de lavar e selecionar tomate. “A Cenibra percebeu o potencial da nossa agricultura familiar e vem há muito tempo prestando excelente trabalho social em benefício dos pequenos agricultores”, ressalta o prefeito de Iapu José Carlos de Barros (PSDB). Segundo ele, os equipamentos fornecidos pela Cenibra são fundamentais para o trabalho dos produtores da Agricultura Familiar, que contam também com um caminhão-baú da prefeitura para escoamento da produção.

Nos 10,5 hectares de sua propriedade no Córrego da Cadela ou dos Portugueses, José Leite Ferreira, 54 anos, tem plantado três mil covas de várias espécies de banana, o que lhe rende aproximadamente cinco mil caixas do produto por ano. Apenas nos meses de frio é que a safra sofre queda de produção. Segundo ele, cada espécie de banana tem preço específico. Atualmente, em média, a cotação da caixa da fruta obedece os seguintes preços: R$ 20,00 (caturra), R$ 30,00/R$ 35,00 (prata), R$ 30,00 (terra), R$ 40,00 (ouro), R$ 50,00 (maçã). Sua produção é vendida principalmente em feiras e sacolões de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo. Há 30 anos cultivando bananas, José Leite ilustra bem o exemplo de produtor rural que trabalha apenas com a esposa e os filhos, que no caso, residem em duas casas construídas bem próximas à sua.

Doces, rapadura, café, ração e cachaça

Cidinha produz a famosa bananada e goiabada caseira da marca Doces Resende, no Córrego dos Portugueses – Foto: Elvira Nascimento

A famosa Bananada Resende sendo processada – Foto: Elvira Nascimento

A preferência dos pequenos e médios agricultores de Iapu pelo cultivo da banana vai levar o município a figurar entre os cinco maiores produtores no estado até 2022, de acordo com Caio Silveira Melo, secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente. No Córrego dos Portugueses, a banana é a matéria-prima da fábrica de Doces Resende. A produção teve início bem caseiro em 2011, mas dois anos depois ganhou rótulo e inscrição estadual. Supervisionada por Maria Aparecida da Cruz Resende, a Cidinha, a fábrica artesanal utiliza principalmente banana caturra plantada na propriedade da família. A produção diária varia entre 60 a 90 quilos de bananada, que cortados em pedaços e embalados totaliza cerca de 300 unidades. Toda a produção é direcionada para escolas estaduais de Ipatinga e Santana do Paraíso (bairro Cidade Nova), bem como sacolões e mercearias da região. Recentemente a fábrica onde trabalham o marido, as três filhas e os genros de Cidinha, passou a produzir goiabada.

 

Os irmãos José e Cláudio Alves Martins, fabricam rapadura e açúcar mascavo artesanalmente no Córrego do Parado. Rapadura

Embalada, a rapadura segue para os mercados regionais

Mas nem só de produtos hortifrutigranjeiros vive a economia de Iapu. O município possui três marcas de café, uma indústria de ração e fábricas de aguardente. No Córrego do Parado, toda a produção de cana manteiga cultivada nos quatro hectares do Sítio Pedreira, transforma-se em rapadura e açúcar mascavo. Por dia, os irmãos José e Claudio Alves Martins fabricam em média 200 rapaduras e 120 quilos de açúcar mascavo. O ambiente limpo da fábrica, licenciada pela Vigilância Sanitária, conta com tacho de 300 litros e esfriadeira de aço inox, como a legislação atual recomenda. “Incentivamos várias ações com inovações técnicas agroecológicas ou sem o uso de defensivos agrícolas”, informa o técnico da Emater Tarcísio José Moreira.

Coleta seletiva e recuperação de nascentes

Com cem por cento de coleta seletiva, Iapu possui eficiente política de preservação ambiental. O programa Pacto das Águas, um termo de responsabilidade assinado entre prefeitura, Copasa e produtores rurais visa o plantio de dez mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica nas nascentes do município. A primeira das 41 áreas de preservação permanente catalogadas a ter cercamento ecológico será o Córrego de Santo Estevão, localizado no distrito do mesmo nome. Além de abastecer a população de Iapu o fluxo de água abastece ainda a cidade de São João do Oriente.

 

Povoamento

A igreja Matriz de Santo Estevão, localiza-se na ampla Praça Higino Fernandes, um agradável ponto de encontro da população iapuense – Foto: Elvira Nascimento

A exemplo de Açucena, rara cidade brasileira com nome de flor, Iapu é uma das poucas cidades do país com nome de pássaro. O vocábulo deriva da espécie japu, conhecida em Minas Gerais como fura-banana e que na região do Vale do Aço encontra-se em extinção. O guacho, como também é chamado, é um pássaro de cor predominantemente preta, com o bico e a parte de baixo da cauda amarelo e precedida de um tom avermelhado. Seu desaparecimento deve-se ao desmatamento das imensas florestas que cercavam a região e o povoado que até 1943 chamava-se Santo Estevão, distrito de Caratinga desde 1923. Em 1948, já com o novo nome de Iapu, cinco anos antes adotado, torna-se município. Sabe-se que os primeiros posseiros do antigo povoado, no final de 1882, foram Raimundo José de Souza e o sobrinho dele, Antônio Bronze, vindos de São José do Rio Preto, interior paulista. Depois deles outros povoadores chegaram ao ribeirão Santo Estevão, apossando-se das terras deixadas pelos índios botocudos.

Desde meados do século XVIII, com a extinção da mineração aurífera, que o Vale do Rio Doce deixou de ser área proibida e passou a ser povoado. As primeiras expedições colonizadoras na margem meridional do Rio Doce ocorreram por volta de 1825, com a implantação dos quartéis das divisões militares. O povoamento em grande escala da região, no entanto, teve início na segunda metade do século XIX, quando passou a se destacar pela criação de gados e a ampliação da agricultura, principalmente com a plantação de café. Já no início do século XX o povoado de Santo Estevão apresentava razoável desenvolvimento. Nos anos 1930 a pacata localidade contava com mais de 100 casas e continuava crescendo. A situação melhorou ainda mais após o final da Segunda Guerra Mundial, com a chegada de famílias oriundas de países europeus para se dedicaram principalmente ao comércio e a agricultura. Com eles vieram a religião protestante.

Durante os anos 1950 e 1960, com a antiga Acesita e a Usiminas, respectivamente, em plena operação, a demanda por produtos agropecuários cresceu, mas, por outro lado, as duas empresas absorveram expressiva mão de obra oriunda das pequenas cidades ao seu redor. A expansão das duas grandes siderúrgicas provocou o despovoamento de muitas localidades da zona rural do futuro Vale do Aço, como em Iapu. Mas, aos poucos, vários fatores foram contribuindo para a retomada do crescimento da cidade, como a construção da BR 458, que diminuiu para cerca de 40 minutos o percurso de carro até Ipatinga. Além de estimular o escoamento da produção agrícola, a rodovia contribui para que muitas pessoas que trabalham em Ipatinga possam residir em Iapu, estimulando o aquecimento do setor imobiliário. Além do surgimento de novos bairros, nota-se ainda a construção de condomínios bem estruturados fora do perímetro urbano da cidade.

 

Economia e Segurança

A área central de Iapu conta com um comércio dinâmico, aquecido em parte pelos consumidores do desenvolvido setor rural – Foto: Elvira Nascimento

O setor lojista de Iapu vem desenvolvendo-se rapidamente a partir da recuperação econômica do município. Em seu terceiro mandato, o prefeito José Carlos de Barros, assegura que a prefeitura está com as contas todas pagas, sem dever ninguém. “A situação equilibrada da administração, sem atraso de salário do funcionalismo e pagamento em dia dos fornecedores, favorece o desenvolvimento do comércio e gera novos empregos”, destaca o chefe do executivo. Segundo ele, muitas pessoas estão voltando a residir e trabalhar na cidade, às vezes, montando seu próprio negócio.

O bom momento de prosperidade é assegurado também pela política de segurança pública adotada pela cidade. Uma das medidas – pouco comum no país – obriga os bares a fechar as portas a partir da 1 hora da madrugada. A iniciativa, segundo o sargento Weliton Tavares do Porto, comandante do destacamento da Polícia Militar, diminuiu consideravelmente para quase zero o número de roubos e a incidência da violência na área central da cidade.

O tradicional grupo da Folia de São Sebastião é Bem Cultural Imaterial do município – Foto: Divulgação

O tradicional grupo de Folia de São Sebastião é registrado como Bem Cultural Imaterial do Município de Iapu. O grupo realiza procissão de fiéis até a igreja de São Sebastião, na comunidade dos Almeida. Há mais de 90 anos a manifestação em homenagem a São Sebastião acontece no município que atrai grande público das cidades vizinhas.

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