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Manifestação artística predominou no contexto religioso

Vista parcial de Ouro Preto – Foto: Elvira Nascimento

Manifestação artística principalmente dos séculos XVIII e XIX, o Barroco mineiro, que abrange aspectos da arquitetura, escultura e pintura, aconteceu segundo estudiosos, dentro da esfera do rococó, fase posterior ao Barroco com influência europeia. O Barroco mineiro teve seu epicentro na antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, fundada em 1711, mas também floresceu com vigor em Diamantina, Serro, Mariana, Tiradentes, Sabará, São João del-Rei, Congonhas e uma série de outras vilas e povoados mineiros.

Igreja Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes – Foto: Elvira Nascimento

Presente especialmente nas igrejas construídas no período do ciclo do ouro, o Barroco mineiro é uma das mais belas e esplendorosas manifestações artísticas religiosa da história recente da humanidade.

Atribui-se à conservação do vasto acervo barroco nas antigas regiões auríferas, justamente ao esgotamento do ouro, desestimulando as reformas ou novas construções advindas de demolições. Segundo Germain Bazin, historiador de arte, curador e restaurador francês, tudo o que foi construído durante o ciclo do ouro mineiro, embora tenha sofrido algumas modificações, ainda existe, o que insere a região em um dos poucos exemplos de civilização artística que preservou seus elementos essenciais.

Povoamento

O crescimento acelerado dos povoados em torno das lavras auríferas favoreceu a organização das irmandades, que desfrutavam de influências religiosas e sociais antes do próprio aparelhamento burocrático. Estas organizações hierarquizadas formada por leigos, foram responsáveis pelo financiamento de inúmeras obras artística religiosa.

As capelas de taipa, pau-a-pique e adobe, cerne dos arraiais embrionários e mantidas pelas irmandades, gradativamente cediam espaço para edificações maiores e mais ornamentadas, fortalecidas mais tarde pelo advento das ordens terceiras, associações com finalidade parecida, mas conhecidas por terem mais recursos. As irmandades religiosas competiam na construção de templos decorados com luxo e requinte, ostentando pinturas, entalhes e estatuária.

Matriz de Santo Amaro em Brumal (Santa Bárbara) ostenta a opulência da arte Barroca – Foto: Elvira Nascimento

No final do século XVIII e começo do século XIX, com a decadência do ciclo do ouro, a situação financeira das irmandades, coincidentemente declinava-se, freando então a emergência dos templos opulentos e o patrocínio das artes. Este período de decadência é marcado pelo desaparecimento de Aleijadinho e Mestre Ataíde, em 1814 e 1830 respectivamente.

Arquitetura

A construção de grandes templos termina com a edificação da Igreja de São Francisco de Paula de Ouro Preto (1804-1878), que tem proporções de uma Igreja Matriz ao ter corredores, tribunas somente na capela-mor, sacristia transversal e consistório.

Igreja de São Francisco de Paula

Nota-se que dois artífices do barroco foram responsáveis pela designação do Barroco Mineiro, sendo Manuel Francisco Lisboa, o Aleijadinho e o construtor Francisco de Lima Cerqueira. A Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, uma das construções mais belas das Minas, é atribuída ao Aleijadinho, porém, sabe-se, no entanto, que o plano original sofreu alterações pelo mestre-construtor Cerqueira, e de certeza é do Aleijadinho apenas a escultura da portada.

Aleijadinho, juntamente com Cerqueira, levam soluções inovadoras adiante e se tornam os arquitetos mais importantes da região e de todo o barroco brasileiro. Suas obras distinguem o barroco em Minas Gerais.

Escultura

Devido a dificuldade de importação de peças portuguesas, dentre estas, estatuária sacra, tornou-se obrigado a produzir as próprias peças por artistas locais, sendo muito deles, anônimos. Na primeira metade do século XVIII, em Minas, artistas e/ou artífices portugueses atuaram, surgindo então, por volta de 1770, uma produção regional com características próprias.

Traços apontados como típicos de Minas Gerais, notava-se pela ausência de padrões essencialmente repetitivos ou acadêmicos, uma policromia menos carregada, mais uniforme e mais econômica que similares litorâneos, feições mais ingênuas e joviais e um tratamento dos trajes que nem sempre prima pela lógica, embora o dinamismo seja constante.

Um dos primeiros mestres de importância nas Minas de identidade conhecida foi Francisco Xavier de Brito, cuja influência marcou toda a região em meados do século XVIII e cuja obra de talha e estatuária na Matriz do Pilar influenciou o próprio Aleijadinho. Junto a Pedro Gomes Chaves, Antônio Francisco Pombal e muitos outros artistas anônimos, Brito trabalhou na confecção da mais rica igreja de Minas Gerais. Dotada de cerca de 450 kg de ouro.

Obras de Francisco Xavier de Brito na Matriz de Nossa Senhora do Pilar – foto: Elvira Nascimento

Aleijadinho, ícone nacional e patrono da arte do Brasil, por decreto Lei nº 5.984, de dezembro de 1973, legou um monumento ímpar na arte brasileira, dentre tantas, destacando-se dois grandes conjuntos escultóricos do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. No adro do templo, doze profetas em pedra-sabão, criados com o auxílio de assistentes e precedendo a igreja, nas seis capelas, a Paixão de Cristo, grupos de estatuária em madeira policromada.

Aleijadinho deixa portanto discípulos, dentre eles, estão seu meio-irmão o padre Félix Antônio Lisboa, e talvez cinco autores apelidados por enquanto apenas com topônimos – Mestre São Evangelista de Tiradentes, Mestre Piranga, Mestre Cajuru, Mestre Sabará e Mestre Barão de Cocais – cujas obras estão sendo recentemente rastreadas a partir do estilo embora os seus nomes e vidas ainda permaneçam uma incógnita. O conhecimento dos ofícios era, inclusive, passado de mestre para aprendiz ou auxiliar e de pais para filhos.

No Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, os 12 apóstolos de Aleijadinho ressalta a originalidade do mestre – Foto: Elvira Nascimento

Vieira Servas e Manoel Dias de Assis e Sousa já trabalham sob influência direta de Portugal. Garcia de Sousa, Vicente Fernandes Pinto, Antônio da Costa Santeiro, Bento Sabino da Boa Morte e Valentim Correia Paes, conhecidos há pouco apenas através de registros documentais, já começam a ter algumas obras identificadas pelas pesquisas atuais

Por fim, a tradição barroca na estatuária mineira perdurou até o fim do século XIX por meio de um seguidor tardio dessa escola, Joaquim Francisco de Assis Pereira, em atuação na região de São João del-Rei e morto em 1893.

Estilos

Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Catas Altas, notabiliza-se pelas diversas fases do Barroco e Rococó – Foto: Elvira Nascimento

1696 – 1730

A talha em madeira que, em alguns casos, recebiam policromia e dourada era típica dos portugueses, chamada de retábulo nacional (usado entre cerca de 1696 e 1730).

1730 – 1760

Outro estilo é o retábulo D.João V ou joanino, inicial e evoluído, com colunas salomônicas estriadas ou com bulbos (de aproximadamente 1730 a 1760) e com influência do barroco italiano. Como exemplos dessas características estão a Capela do Padre Faria, em Ouro Preto; e Matriz da Conceição, em Catas Altas.

1760 – 1840

O terceiro estilo (de cerca de 1760 a 1840) é o rococó ou estilo D. José I, com características como colunas retas, redução de douramento, uso da rocalha, talha mais suprimida e uso de moldes de gesso para fazer a ornamentação floral.

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